sexta-feira, 7 de março de 2008

O NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO


Foi assim que a conheci...

Não sou muito de freqüentar bares. Mas fui levado por uma força estranha a um deles. E vi um grupo de jovens que estava conversando sobre o que é o amor. Ouvi sem querer enquanto esperava que uma mesa fosse desocupada, e as suas palavras ficaram latejando em minha alma. Discordava dos conceitos deles, já que não podiam ver (baseado no que ouvi), que o amor é muito mais que o atrito entre duas carnes.

Afastei-me quando o garçom avisou-me que havia uma mesa desocupada. E enquanto me afastava, percebi que era observado por uma jovem que só alguns dias depois soube quem era. Quando cheguei à minha mesa, comecei a escrever em guardanapos de papel como se fosse um poeta, o que eu acreditava ser o amor. E no momento em que escrevia, sentia um estranho e gostoso sentimento invadindo meu coração como se eu estivesse sendo inspirado por uma profecia.

Escrevi então:
O amor verdadeiro é a harmonia sem explicações entre duas almas nas quais repousam a eterna inquietude da esperança...

É como uma alegre manhã de sol depois de uma noite chuvosa e fria...
Quando o amor toca um coração com seus dedos mágicos, ele só sente o amor... Quando fala com sua voz eterna, o mesmo coração só ouvirá esse som... Quando o amor chama, o coração que ama só atenderá esse convite, e ficará para sempre ao seu lado, e ouvirá todos os dias o repetido pulsar de sua alma, como se fossem batidas compassadas de coração.

Ele aparece em um instante como o lampejo de um relâmpago. O que se pode descrever depois é do que já aconteceu, como se fosse o trovão, que não pode antecipar, mas só anunciar o verdadeiro acontecimento... Porque nada antecipa o amor, e é por isso que é eterno, posto que também jamais acaba. Porque haverá sempre uma semente, um sinal, uma pedra ou um registro nas marcas do tempo, que comprovará que ele perpetua em sua sina eterna de ser, ainda que sem querer fazer-se perceber.

Surgiu naquele lampejo, e não importa quanto durou o clarão, porque esse foi o momento mágico da luz que não se apagará jamais, então perpetuada na lembrança de quem vive, e só por isso mesmo vive... O que se segue são trovões, pois ainda que ensurdecedores, não passam de barulho. Porque o que há de verdade é a força, a eletricidade, e o fogo desse raio incandescente, que num instante pode, e deve, e faz, com que a alma arda em chamas, e essa chama eterna clareie e aqueça tudo o que era escuro e frio...

Depois desse instante mágico, tudo se fez, e a magia estabeleceu leis que não são escritas como as que ordenam que a lua gire em torno da terra, e a terra em redor do sol, e o sol e todos os seus irmãos ao redor de Deus, e uma alma ao redor da outra a girar a sorrir, e a girar eternamente de mãos dadas a cantar e cantar, e sorrir a cantar...

E são essas mesmas leis não escritas, que estabelecem que se faça, e se faz; que se perpetue, e será eterno; e que se ame, e ama... E é a mesma força que faz com que tudo gire como o enorme relógio do tempo que arrasta tudo o que tenta impedir que tudo isso aconteça.

Porque não há maior força, pelo menos conhecida mesmo pelos que já navegaram o mais profundo do abismo, ou os que visitaram a amplitude das alturas do terceiro céu...

E o fruto do amor é muito mais que o gestado entre os instantes do riso de prazer de um pai e o grito de dor de u'a mãe... O amor está muito acima de qualquer cheiro ou som feito pelo atrito de carnes...

Passei muito tempo escrevendo e reescrevendo e antes de sair, lembro-me que tomei o cuidado de embolar o papel e jogar em um cesto de lixo. Ele ficou entre a parede e a borda do latão, mas eu não fui corrigir esse erro. A moça que parecia conhecer-me estava bem perto de mim quando o fiz, e a cumprimentei com um leve aceno de cabeça.
Dias depois, foi que soube quem era ela. Recebi uma cópia do que eu havia escrito e jogado no lixo do bar (comprovando a minha falta de habilidade para o basquete). Ela disse depois que me seguira desde o momento que me viu pela primeira vez. Só teve certeza de que eu era quem ela procurava, depois que leu o que escrevi...
Eu tive essa mesma certeza, na segunda vez que a vi, quando sutilmente pegou o que eu havia escrito.
E as nossas vidas desse dia em diante, tem sido um reflexo que comprova a cada dia aquilo que escrevi...

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© Adelmario Sampaio

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