domingo, 22 de julho de 2012

A VOZ DO SILÊNCIO



Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem
Martha Medeiros

sábado, 21 de julho de 2012

LÁGRIMAS DA DEPRESSÃO

Por ser uma doença tão incompreendida é que muitos evitam falar. Quem não experimentou, não sabe o que significa não ter forças emocionais para abrir a janela para ver o sol.

O depressivo busca refúgio no isolamento, ele não se sente abandonado, abandona-se, desiste de si, de uma certa forma.

Há pessoas que choram seu destino, mas ao depressivo isso não acontece, pois se chora é porque não consegue ver destino, nem bom, nem ruim, apenas um vazio instalado a alguns metros dos seus olhos.

Falta vontade pra levantar, pra andar, pra sair, pra viver... a única vontade que sobra é a de dormir, pois esta não pede esforço, não exige ajuda e não obriga ninguém a enfrentar o dia.

Na depressão só as lágrimas são companheiras, pois vêem sozinhas e ficam juntas sem tentar consolar e sem fazer perguntas ou exigências. Elas ficam, simplesmente, presentes.

Que a vida é bela eu sei! Ela é bela para quem ri e para quem chora, para quem espera e para quem desespera. Ela é bela quando é noite, quando é dia, quando a chuva canta na janela e os ventos assobiam estranhas canções.

Mas a beleza da vida não é atrativo bastante para encher uma alma de querer, para injetar nela a vida e novas perspectivas. É preciso mais, muito mais que a luz do dia ou a suavidade de uma flor para dar a uma pessoa o desejo de se levantar e recomeçar o caminho.

É difícil buscar forças quando já utilizamos todas as reservas possíveis, mas é exatamente esse o momento de dirigir-nos a Deus, pois se nossas forças físicas parecem mortas, nosso pensamento está bem vivo.

E é quando abandonamos completamente nosso desejo ao desejo de Deus que nos tornamos mais fortes.

Que o depressivo não pense que chegou ao fim do caminho, ele apenas fez uma parada. Há ainda muita estrada pela frente, novas perspectivas e novos horizontes.

Quando Deus toma a direção das nossas vidas é que as janelas começam a se abrir, que nosso coração bate um pouco mais apressado e começamos a encontrar as soluções para o que antes parecia perdido.

Podemos atravessar a dolorosa estrada da depressão, mas chegaremos ao fim dela, pois se sozinhos nos sentimos, sós já não estamos.

A vida continua linda, continua bela. E se já não sabemos mais olhar, Deus nos ensina como abrir os olhos.

Letícia Thompson

quinta-feira, 19 de julho de 2012

ELA É LINDA

© Silvana Duboc


Eu gosto dela tanto,
tenho por ela um encanto
impossível de descrever
e isso aconteceu
desde a primeira vez
que eu a pude ver.
Me lembro que foi por fotografia
num determinado dia
que a vida me parecia
sem graça e sem razão,
numa madrugada fria
sem nenhuma espécie de ilusão.
Logo que meus olhos, os dela, fitaram
de emoção eles trepidaram
e então eu me lembrei;


é essa a mulher das minhas vidas,
aquela que sempre eu amei,
mas quando eu vou revê-la
isso eu ainda não sei.


E então muitos anos se passaram,
alguns falsos amores nos rondaram
até que ela apareceu
e eu me tornei seu
mas faltava ela ser minha,
princesa e rainha,
menina e mulher...
E hoje ela já é tudo que eu quiser.
É minha amiga e conselheira,
minha amante e companheira,
é a única e a primeira
que tomou posse do meu coração
e que me encharca de paixão.
E ela é linda, tão linda
que eu já nem sei dizer
se ela realmente é linda
ou se ela me parece linda
porque fez por merecer.

UMA NOVA CHANCE

Ele: Oi.
Ela: Oi.
Ele: Posso sentar aqui?
Ela: A praça não é minha e a vida é tua.
Ele: Dia difícil é?
Ela: Talvez.
Ele: Como?
Ela: Talvez.
Ele: Não, digo, como assim talvez?
Ela: Gosto desta palavra. Uso quando não quero responder o que perguntam.
Ele: Ah.
Eles ficam em silêncio.
Ele: Aposto que se eu fosse ele, você sorriria pra mim.
Ela: Ele quem?
Ele: O cara que você ama.
Ela: Eu não amo um cara.
Ele: Eu sei que ama, eu te entendo.
Ela: Hum, sofre também?
Ele: O quê?
Ela: Digo, sofre por amor também, que nem eu?
Ele: Não, por amor não. Pela falta dele, talvez.
Ela: Talvez?
Ele: É! Gosto desta palavra. Uso quando não quero aceitar os fatos. Aprendi com uma menina há uns minutos atrás. Ela tem um sorriso lindo.
Ela: Como sabe do sorriso dela? Ela nem sorriu.
Ele: Eu aposto nisso, ela ainda vai sorrir pra mim.
Ela: Acho difícil. Ela está tendo um dia difícil.
Ele: Eu não.
Ela: Então ela te desafia.
Ele: E eu desafio ela a começar tudo de novo.
Ela olha para baixo
Ele: Oi, posso sentar aqui?
Ela sorriu
Ele: Viu, eu disse!
Ela: O quê?
Ele: Que ela tinha um lindo sorriso.

Para que serve uma relação?

® Martha Medeiros

“Uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil.”

Algumas pessoas mantêm relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça. Todos fadados à frustração.

Uma relação tem que servir para você se sentir 1009 vontades com outra pessoa, vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.

Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

UMA MULHER BONITA


O meu amigo é um fotógrafo famoso. Pediu que eu ficasse um pouco, até que ele escolhesse uma das fotos das modelos para um calendário. Olhei as fotografias, começando pelas descartadas, e parei numa que me encantou.
— Escolho essa, – eu disse sem que me perguntasse.
Ele riu.
— É a nossa faxineira, - disse. – Estava só fazendo experiências com uns jogos de luz e a usei como cobaia. Você pode entender de poesia, amigo, mas não de foto e de beleza, - brincou.
— Você pode entender de jogo de luz, e de foto, mas eu conheço o que é belo, até pelo cheiro, - eu disse.
— Que há de belo nessa foto? – ele perguntou.
— Na foto não sei. Mas a mulher é a mais bonita de todas...
Ele pegou novamente a foto, aproximou dos olhos, afastou, chegou perto da luz, e dessa vez não riu, porque percebeu que eu falava sério. Olhou-me mais uma vez, e voltou os olhos para a foto sem graça, porque me conhece, e sabe que não brinco com o que é sério. Já havíamos conversado sobre a beleza, e ele sabe que não brinco com ela. Desligou os refletores, empurrou as outras fotos, e chegou mais perto da que indiquei, depois afastou-se sempre contemplando com interesse. Nisso a faxineira apareceu na porta, e perguntou se poderia ir embora, já que terminara o serviço. Ele disse que esperasse um minutinho, que precisava falar com ela sobre um outro trabalho que tinha. Ela olhou-me de relance, e saiu.
— A sua beldade é essa aí, – ele disse meio zombando.
— E afirma a minha posição. É mais bela que na foto.
— Eu te conheço, e sei que é um belo poeta... E justamente porque é louco varrido, é que é poeta dos bons. Eu gosto muito do que faz, embora não tenha tempo de ler os teus devaneios, e acho que deveria se ocupar de coisa mais útil e rentável... Diga agora, o que é que há de bonito nessa mulher?!...
— Tudo, - eu respondi.
— Por exemplo?...
— Tudo. Amigo, não seja cego. Ela é mais bonita que todas as outras que você fotografou, e ainda pagou por isso. Você ignora a moça, justamente porque a sua beleza está escondida do padrão... Parece um poema bem feito. A beleza dela é dupla. Digamos que uma evidência e um mistério ao mesmo tempo. A evidência é obvia demais para falar dela. Mas o mistério, só pode ser percebido por quem tenha um pouco de sensibilidade, e creio que você tem, e é por isso que é o profissional que é.
Ele olhou novamente a foto. Demorou-se um pouco mais nisso.
— O quê mais? – ele perguntou.
— Amigo, a verdadeira beleza não pode ser descrita em palavras. Ela quando contemplada, faz com que o espírito se eleve de tal maneira que tudo o mais fica feio, se comparado. Essa mulher não pode ser comparada com ninguém que eu conheça. A beleza amigo, é o que vem da alma. A alma é que modela o coração. O coração é que modela o corpo. O corpo é que modela as vestes, os sapatos, as jóias, e tudo o mais que existe... Começa com a alma...
— Quanto à alma, você tem toda a razão, mas...
Ele levantou mais uma vez a foto, impressionado com o que eu dizia. Vi um gesto muito tênue de aprovação em seu rosto.
Quando eu ia sair, pediu que dissesse para a moça que ele estava chamando-a. Passei por perto dela, e dei o recado. E antes de sair, brinquei com as palavras do ladrão da cruz:
— "Lembra-te de mim quando entrares no teu reino".
— Quê?...
— Você vai ser promovida!...
Ela arregalou os olhos. Eu tinha fama de profeta. Deve ter pensado que eu brincava que iria morrer.
Pouco mais de uma semana depois, a vi na capa da primeira revista. Um mês depois, já eram muitas as capas. Depois a vi na televisão...

Um dia eu estava sem dinheiro, e fui ver se o meu amigo tinha algum pra me emprestar, e a encontrei saindo do escritório dele, e entrando em um carro caro. Não me reconheceu, ou fez que não. Eu tinha certeza que era ela. Parecia-se um pouco com a mulher que eu conhecera na foto, mas não era mais bonita como aquela, embora todos em todos os lugares no mundo dissessem o contrário.

O meu amigo recebeu-me com entusiasmo.
— Viu a nossa rainha saindo?!... Lembra quando a descobrimos?...
Balancei a cabeça que sim.
— Um espetáculo, não? E pensar que eu estava com esse tesouro aqui perto, e não sabia... Não está linda!... – disse olhando a enorme foto da modelo na parede.
Eu ri sem graça. Se insistisse, eu teria dito que a moça estava com uma pequena distorção na alma. Mas ele mudou de assunto:
— Cara, estava tentando encontrar você!... Queria que olhasse umas fotos que eu tenho. Estou precisando encontrar uma mulher bonita, e sei que você tem muita sensibilidade para isso...
Olhei as fotos que me entregou, e não encontrei nenhuma que me agradasse. Ele insistia mostrando mais e mais. Meu coração foi ficando cada vez mais triste, e tive que me despedir sem mesmo encontrar uma que sobressaísse.
E até me esqueci do dinheiro que fui tomar emprestado...

® Adelmario Sampaio

NUNCA TI VI, SEMPRE TI AMEI! - cascata.

Nunca te ví, não conheço o teu corpo,
Mas eu te sinto mesmo que estejas longe.
Não me olhei ainda na luz dos teus olhos
E nem provei o gosto da tua boca.
Mas eu te quero, mesmo sabendo que nunca te terei.

Não experimentei o teu toque e nem sequer te acariciei,
Mas sinto o teu perfume no ar.
Sucumbi à tua sedução, mesmo sabendo que nunca te encontrarei.
Nosso amor é só virtual, mas não faz mal,
Pois alma é mais do que corpo.
E, se não te tenho ao meu lado, que o vento sussurre para ti
minhas palavras de carinho.

Quero também que ele diga que alguém te ama
Do jeito que mais sabe, com tudo o que é capaz.
E se pensares no amor, e em tudo o que ele traz de felicidade
na vida, ora, isso não é nada, pois te amo muito mais!

Alma é mais do que corpo.
E minha alma seguirá sempre amando a tua,
Mesmo que nossos corpos nunca possam se encontrar.
Mas chegará o momento por alma ser mais que corpo,
Que seremos só uma alma,
Um coração e um só pensamento!


Por: Almeida Stella

HOMENS DE LENÇO

*autoria: Aldiana Doudement - PE

Onde estão os homens de lenço e a leveza de sua mão estendida???
Sempre dispostos a secar a face de uma mulher quando via
Um sentimento que escorria com gosto de água salgada
Homens finos,sempre elegantes, quase sempre usavam gravatas.

Homens que tinham sorriso terno e
Versos que de tão belos viravam melodia.
Com o perfume de seu lenço tocavam
Não só a face como a alma feminina..

Onde andam os homens de lenço
Que com passos firmes caminhavam pela vida?
Quase sempre eram discretos amantes,
Embalados por canções românticas de uma
Pureza infinita.

A dama que tivesse seu pranto secado por
Um desses lenços perfumados, se sentia
Totalmente seduzida por esse gesto de
Encanto, onde o amor é romântico
Jamais tratado com desdém ou ironia

Voltem, homens de lenço!
Queremos todo sentimento
Que o seu encanto trazia
Devolvendo ao mundo princesas de conto de fadas,
Cavalheiros envolventes que fazem novo o desejo de fantasias....

O QUE A DANÇA ENSINA


© Martha Medeiros

Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira para fazer alguma coisa que nunca se fez. Pois dia desses aceitei um desafio: fiz uma aula de dança de salão. Roxa de vergonha por ter de enfrentar um professor, um espelho enorme, outros alunos e meu total despreparo. Mas a graça da coisa é esta, reconhecer-se virgem. Com soberba não se aprende nada. Entrei na academia rígida feito um membro da guarda real e saí de lá praticamente uma mulata globeleza.

Na verdade o simples prazer de dançar bastaria para justificar a prática, mas vivemos num mundo onde todos se perguntam o tempo todo “para que serve?”.

Para que serve um beijo, para que serve um ler, para que serve um pôr-do-sol?
É a síndrome da utilidade. Pois bem, dançar tem sim uma serventia. A dança nos ensina a ter confiança, se é que alguém ainda se lembra o que é isso.

Hoje ninguém confia, é verbo em desuso. Você não confia em desconhecidos e também em muitos dos seus conhecidos. Não confia que irão lhe ajudar, não

confia que irão chegar na hora marcada, não confia seus segredos, não confia seu dinheiro. Dormimos com um olho fechado e outro aberto, sempre alertas, feitos escoteiros. O lobo pode estar a seu lado, vestindo a tal pele de cordeiro.

Então, de repente, o que alguém pede de você? Que diga sim. Que escute atentamente a música. Que apóie seus braços em outro corpo. Que se deixe conduzir.

Que não tenha vergonha. Que libere seus movimentos. Que se entregue.

Qualquer um pode dançar sozinho. Aliás, deve. Meia hora por dia, quando ninguém estiver olhando, ocupe a sala, aumente o som e esqueça os vizinhos.

Mas dançar com outra pessoa, formar um par, é um ritual que exige uma espécie diferente de sintonia.

Olhos nos olhos, acerto de ritmo. Hora de confiar no que o parceiro está propondo, confiar que será possível acompanhá-lo, confiar que não se está sendo ridículo nem submisso, está-se apenas criando uma forma diferente e mágica de convivência.

Se os casais hoje, dedicassem um tempinho para dançar juntos, mesmo em casa - ou principalmente em casa – muitas discussões seriam poupadas. É uma espécie de conexão silenciosa, de pacto, um outro jeito de fazer amor.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A FAXINA

Estava precisando fazer uma faxina em mim...
Jogar fora alguns pensamentos indesejados,
Tirar o pó de uns sonhos, lavar alguns desejos que estavam enferrujando...
Tirei do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais.
Joguei fora ilusões, papéis de presente que nunca usei, sorrisos que nunca darei...
Joguei fora a raiva e o rancor nas flores murchas,
Guardadas num livro que não li.
Peguei meus sorrisos futuros e alegrias pretendidas e as coloquei num cantinho, bem arrumadinhas.
Fiquei sem paciência! Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: paixões escondidas, desejos reprimidos, palavras horríveis que nunca queria ter dito, mágoas de uma amiga sem gratidão, lembranças de um dia triste...
Mas lá havia outras coisas... belas!!!
Uma lua cor de prata... os abraços... aquela gargalhada no cinema, o primeiro beijo... o pôr do sol... uma noite de amor .
Encantada e me distraindo, fiquei olhando aquelas lembranças.
Sentei no chão,
Joguei direto no saco de lixo os restos de um amor que me magoou.
Peguei as palavras de raiva e de dor que estavam na prateleira de cima - pois quase não as uso - e também joguei fora!
Outras coisas que ainda me magoam, coloquei num canto para depois ver o que fazer, se as esqueço ou se vão pro lixo.
Revirei aquela gaveta onde se guarda tudo de importante: amor, alegria, sorrisos, fé…..
Como foi bom!!!
Recolhi com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, perfumei na esperança, passei um paninho nas minhas metas e deixei-as à mostra.
Coloquei nas gavetas de baixo lembranças da infância; em cima, as de minha juventude, e... pendurado bem à minha frente, coloquei a minha capacidade de amar... e de recomeçar...

© Martha Medeiros

QUE ME VALHAM

Fecho os olhos e no universo propago-me, parte de mim em que antes solitária e sombria, hoje estendida em lençol macio, transparente e claro... Já não estou mais sozinha, há um Sol que me ilumina e na sua luz, eu divago... As palavras me tomam secas na garganta, quando o Sol que me acompanha me enseja a sede, inspirando para que eu me levante, diz-me que não estou sozinha, é o deserto quarando o pano para o deleite comigo, quem eu amo... A saudade faz doer, como se fosse um rever de um tempo que me domina, nem era eu tão menina, era rosa desabrochando nas manhãs que descortinam... Quisera memórias me ditassem os anos ou as folhas das páginas do que fui um dia, se foram de sonhos ou de desenganos a justificar as minhas nostalgias... Andei perdida e hoje me encontro pelos remos da poesia, a bússola me foi o balanço de jeito simples como o coração dizia, que os sinais na travessia outrora determinantes, são de relevos frisantes, que eu mesma deixei um dia...

Então que me valham...

Que me valham todos os perfumes a não saber o nome da rosa, todas elas em suas cores diferentes chegando airosas... Que me valham todas as estrelas, pois que são formosas, de perto ou distante, miúdas ou graúdas, todas elas deslumbrantes, grandiosas... Que me valham todas as asas, nas alturas ou rasteiras, como as nunca vistas antes, como as ditas costumeiras... Que me valham todos os plantios, os que alimentam e os indigestos, as ervas que a mim acalmam e as daninhas quando peco... Que me valham todo o universo da realidade criada e da medalha os reversos, quando deles eu me inspiro na soltura dos meus versos. Que me valham todas as coisas, por todos os sins, também pelos nãos, por opção das escolhas e as lutas por libertação...

Livinh@petitto