domingo, 29 de junho de 2008

INSATISFAÇÕES


"Nada é bastante para quem considera pouco o que é suficiente."
Confúcio (Kung-Fu-Tse)

122 pares de sapatos e ela não encontrava um que servisse para aquela festa. 20 ternos e ele estava achando todos um lixo. Geladeira cheia e o menino batia a porta por não encontrar uma coisa gostosa. Calmante forte, com tarja preta e receita, mas eles não conseguiam dormir.
Carro do ano na garagem, mas não sabiam para onde ir. Casa de luxo na praia, mas estava fechada a mais de meses... Celular último tipo......... DVD, Karaokê, Notebook, Câmera digital, Vídeo Game In Box, jogos de última geração, e muita, muita insatisfação.

Estamos nos armando de tudo o que é tipo de tranqueira material para suprir o vazio que nada preenche. Vamos ao supermercado esperando encontrar felicidade nas prateleiras, mas voltamos frustrados, com o carro cheio e a alma vazia.

Nunca o homem teve tanto acesso a Deus e nunca ficou tão distante como agora, tantos templos, tantas religiões, tantas definições e ideologias, e mesmo assim, o homem se afasta cada vez mais do seu Criador.

Por isso a carência afetiva, as doenças nervosas, a violência que se espalha, o consumismo que gera as diferenças sociais tão brutais.

E nada sacia o homem, quanto mais ele acumula, quanto mais possui, mais vazio vai se tornando.

Aproveite seu dia, busque encontrar Deus pelo caminho, na pessoa que sentou-se ao seu lado no ônibus, no vizinho que você não cumprimenta já faz tempo, no animal abandonado e que você quase atropela, na árvore que seca bem em frente á sua casa, no cidadão deitado no banco da praça, no filho que se embriaga e você nem vê, na filha que sofre a desilusão do primeiro amor e você não sabe.

Quantos gritam onde está Deus?, cegos pelo orgulho que não permite ver que Ele nunca se ausentou, sempre esteve na sua vida, no seu dia, na sua família, mas nunca foi chamado, a não ser nas desgraças e nos momentos de dor e sofrimento.

Você convidou Jesus para almoçar com você hoje? No dia do seu casamento você mandouo primeiro convite para Ele? Na sua formatura Ele estava presente? Hoje ao levantar-se você falou com Ele? Você contou do seu amor, da sua alegria no trabalho? Você quer saber onde está Deus?

Olhe para a sua vida, como você trata os seus, olhe para a sua casa, reveja suas atitudes diárias.Os atos falam mais do que as palavras e tudo o que fazemos, são às verdadeiras orações que levamos até Ele. Por isso, antes de fazer sua oração repetida, velha e cansada da mesma ladainha, coloque um "fogo novo" na sua vida: convide Jesus para participar de todos os seus momentos, e assim, você será preenchido, saciado, envolvido pelo amor que nunca acaba, pela água que sacia a tua sede, e então, mesmo com muito pouco, serás plenamente feliz, porque Ele veio para que todos tenham vida, e tenham vida com abundância.

© Paulo Roberto Gaefke
(Presente da Aurea Manchini)

QUE PENA


Que pena! Chegaste tão tarde, amor!
Agora que nossos corpos já estão cansados,
Nossos olhos turvos, obscurecidos,
Nossos sonhos, desbotados, já esmaecidos!

Que pena! Chegaste tão tarde, amor!
Já nem sei se te reconhece o meu coração,
Nem se bate por ti descompassado,
Acostumado que estava a pulsar por ti, em vão!

Que pena! Chegaste tão tarde, amor!
Demoraste tanto a perceber que me amavas,
E ao ver-te agora, dou-me conta
Que morri aos poucos enquanto te esperava
Deste nosso amor nada mais restou,
Nada!

© Fátima Irene Pinto

quarta-feira, 25 de junho de 2008

DUAS VIDAS


Empertigada e séria, Marieta, sentada no banco do jardim, permanecia ali todas as tardes, sobraçando com dignidade seu volume encadernado de verde-escuro, óculos sobre o nariz, no braço fino a bolsa de couro marrom, que apesar de muito usada ainda conservava o brilho delicado, sempre conseguido com a graxa de sapatos.

Vestia traje clássico, que jamais entra em desuso principalmente para as pessoas de certa idade.

Aposentara-se aos 60 anos, depois de trabalhar por quase 40 anos nos escritórios da estrada de ferro.

Apesar de em desuso e as linhas de trem haverem quase todas acabado com o advento das estradas de rodagem, mais rápido e mais eficiente meio de transporte, a companhia, que mudara de nome algumas vezes, a tinha conservado no posto.

Havia até quem dissesse que D. Marieta representava a própria era da ferrovia, tendo nascido ao seu apogeu e se mantido apesar da decadência.

Funcionária exemplar, durante tantos anos, quase nunca faltara ao serviço ou chegara fora do horário. As outras que não conseguiam seguir-lhe o exemplo, diziam com raiva:

- Ela pode, porque é solteira. Nada tem que a preocupe, nem que a impeça de chegar no horário.

Ao que Marieta sempre respondia:

- É desculpa de quem não quer esforçar-se. Também tenho minhas obrigações.

E de fato as tinha. Seus dois irmãos se tinham casado e ela ficara com os pais, cuidara deles com desvelado carinho, até a hora em que eles morreram. Primeiro a mãe, vítima de insidiosa moléstia, depois de 6 anos o pai, de pneumonia dupla.

Marieta ficou só. Os irmãos se tinham mudado para São Paulo em busca de melhores condições de trabalho, o que não era fácil naquela cidade do interior.

Marieta sentia o peso da solidão, a ausência de afeto, a frustração de seus sonhos de mulher não realizados.

Mas a vida na cidade mantinha seu ritmo e ela continuava a exercer suas funções no emprego religiosamente e cuidando da casa, agora solitária e silenciosa.

Não se mudou. Para que o faria? Seu mundo de lembranças estava lá. Sua infância, os ruídos dos seus pais nas costumeiras conversas ao pé do fogão, onde a lenha crepitava e a chaleira fervia continuamente. As discussões com os irmãos, os aniversários sempre comemorados com chocolate quente, mesmo no verão, e o bolo de maisena, sanduíche de mortadela cortada fininha, da venda do seu Nicolau. O namoro dos irmãos, as formaturas, seus sonhos nunca realizados.

Por que não tinha se casado? Ela bem o quisera, mas além de alguns flertes banais, nada mais acontecera em sua vida. Nem um amor vitorioso ou uma emoção maior. O que fazer?

Até que tinha se apaixonado por duas vezes, a primeira aos 18 anos por aquele belo caixeiro viajante que todos os meses comparecia à companhia para vender papel e artigos de escritório.

Mas ele desapareceu sem sequer interessar-se por ela, que chorou muito vendo seu galã substituído por gorducho e simpático companheiro, pai de numerosa prole que ele mostrava sempre a quem quisesse ver, tirando da carteira um retrato completo, onde sequer faltavam os sogros e estavam seus seis filhos.

Nunca mais ouviu falar no seu antecessor, e outra aconteceu-lhe aos 40 anos, para provar que idade não trava o coração.

Alto, forte, simpático, solteirão inveterado, o Boanerges ocupou os pensamentos cândidos de Marieta que em seus arroubos amorosos jamais ia além de um beijo roubado a medo, um roçar de mãos ao acaso, ou um olhar mais intencional.

Quando o encontrava na praça sentado a ler o jornal, depois que saía da repartição onde trabalhava, tremiam-lhe as pernas e o coração saltava-lhe no peito, como a sair pela boca.

Boanerges tinha o gosto pela natureza. Seu prazer era ver o entardecer em meio às árvores, ouvindo o gorjear dos pássaros e o chilrear alegre de algumas crianças pulando amarelinha.

Suspirava fundo, bebia gostosamente a paisagem bucólica que o circundava e depois, feliz, realizado, à vontade, tirava do bolso do paletó o jornal cuidadosamente dobrado e dispunha-se à leitura.

Só quando a escuridão dificultava a visão é que ele repunha o jornal no bolso e respirando gostosamente tomava o caminho de casa.

Às vezes, embebia-se tanto na contemplação e no prazer de viver aquele instante que saía deixando o jornal esquecido no banco.

Foi por causa dele que Marieta começou a gostar da praça. Ela também deixava o emprego às 4 e meia. Por que ir para a casa tão cedo? Porque trancar-se no seu solitário mundo de recordações?

Não gostava de ler jornais, preferia as poesias, os romances. mesmo assim, lia pouco. Não era um entretenimento que a atraísse.

Contudo, lá estava o Boanerges, tão feliz, tão realizado. A princípio ela tentava escolher livros para ler na praça todas as tardes, na volta do emprego. Sentava-se a um banco, ao lado do banco do seu apaixonado e, como saía mais cedo que ele, quando ele chegava, ela já lá estava, digna, ereta, lendo. Ele, vendo-a, cumprimentava-a levando a mão ao chapéu e ali permanecia, silencioso e feliz.

A cena repetia-se todas as tardes e Marieta passava aquelas horas, livro aberto nas mãos, e observando o vizinho disfarçadamente.

Com o tempo, ela até se esqueceu de mudar o livro, já que não a interessava a leitura. Ficava ali, sentindo o coração bater forte e gostoso calor a invadir-lhe o corpo.

Algumas vezes conversavam, coisas banais tais como: "O dia está lindo" , "O céu está azul" ,

"As flores estão cheirosas". Nunca nenhum assunto pessoal ou mais íntimo.

Marieta sentia-se bem com a proximidade dele e naturalmente, levantava-se antes que ele se decidisse a ir embora, para recolher-se à sua casa solitária.

No verão um pouco mais tarde, no inverno, como escurecia mais cedo, retirava-se um pouco antes. Não ficava bem, pensava ela, deixá-lo ir-se primeiro e era tão pontual nessa atitude que aos poucos ele se foi habituando a esperar que ela se fosse para ir-se por sua vez depois de cinco a dez minutos.

Até que um dia o Boanerges não apareceu e Marieta preocupou-se muito. Telefonou para a repartição onde sabia que ele trabalhava e descobriu que ele estava afastado por motivo de saúde.

Teve vontade de ir visitá-lo, porém não ousou. Por certo não ficava bem. Ele vivia sozinho.

Durante vários duas esperou ansiosa e nada de Boanerges. Marieta olhava o banco ao lado do seu e rezava para que ele recuperasse a saúde.

Até que uma tarde, ao passar pela praça ele estava lá. Tinha chegado antes dela. Estava magro, os cabelos tinham embranquecido mais, o rosto abatido; jornal no bolso do paletó, ele olhava o céu e respirava o ar puro com prazer.

Marieta, livro em baixo do braço, parou e olhou-o emocionada. Ele tirou o chapéu, sorriu e ela sentiu-se feliz.

- O senhor não tem vindo, - disse com ar sério.

- Estive doente. Por causa disso aposentei-me. Não trabalho mais.

Marieta sentiu um baque no coração.

- Quer dizer que não virá mais à praça?

- Virei sim. Ao contrário. Agora tenho tempo para estar aqui sempre que quiser.

Marieta sorriu tranquila, abriu o livro e mergulhou o rosto nele, embora seus olhos não lessem nada do que estava escrito ali.

E de fato, as coisas se modificaram. Quando Marieta chegava, o Boanerges já estava lá e ela depois de cumprimentá-lo sentava-se e reabria seu livro religiosamente.

Quando se aposentou, Marieta cumprimentou-o mais corada do que de costume e disse-lhe comovida:

- Hoje foi meu último dia de trabalho. Aposentei-me.

Ele remexeu-se no banco:

- Não virá mais à praça?

- Nem pense nisso, - disse com ardor, depois, corada completou: É tão linda! Estou tão habituada a vir aqui! Agora terei mais tempo para isso.

Ele sorriu calmo, abriu o jornal e continuou a leitura.

Uma tarde ele olhou-a e disse emocionado:

- Estou doente. O médico queria que eu mudasse de ares.

Marieta olhou-o aflita. de fato o Boanerges estava magro e abatido.

- O senhor vai viajar?

- Não. Não vou. Se me curasse, eu iria, mas não tenho essa esperança.

Marieta olhou-o penalizada. Pela primeira vez, atreveu-se e levantando-se, sentou-se no mesmo banco que ele.

- O senhor está triste, - disse comovida.

- Estou. Esta doença não me deixa.

- E sua família?

- Sou sozinho. Não tenho ninguém. A senhora tem família?

- Não. Meus pais morreram há muitos anos, meus dois irmãos moram na capital.

A partir desse dia os dois sentavam-se no mesmo banco e ora conversavam ora permaneciam em silêncio, ela fingindo ler, ele contemplando a natureza. Aos poucos descobriram que gostavam das mesmas coisas, tinham as mesmas idéias e muitos pensamentos em comum.

Até que um dia, ele não apareceu na praça, nem no outro nem no outro. Desesperada, Marieta decidiu-se. Aprontou-se e foi ter à casa dele. E o que temia aconteceu. O Boanerges estava pior.

Estendido no leito, rosto pálido, ele estava mal.

A empregada recebeu Marieta e levou-a ao lado dele que vendo-a tentou sorrir.

- Senhor Boanerges, estranhei sua ausência e bem desconfiei da sua saúde.

- Dona Marieta, - disse ele com alguma dificuldade, - eu estou mal.

- Deus é grande. O senhor vai ficar bem.

Diariamente Marieta visitava o enfermo mas ele não ficou bom. Uma tarde, entre um achaque e outro, num momento de calma, o Boanerges tomou a mão delicada de Marieta dizendo comovido:

- Sei que meus dias estão contados. Não quero morrer sem fazer-lhe uma confissão.

- Fale, senhor Boanerges.

- Nós nos conhecemos há muitos anos.

- É verdade. Pra mais de 20.

- Eu devo dizer que sempre a amei, Marieta. Eu sempre a amei.

- Boanerges!

- Não diga nada. Não me critique, por favor! Compreenda! Eu já tinha mais de 40 anos quando a vi passar e me apaixonei.

Marieta tremia qual folha batida pelo vento.

- Não se ria por favor!

- Não estou rindo. Por que nunca me disse? Por que deixou que nossa vida se fosse sem nunca me dizer nada?

A voz de Marieta era dorida e havia revolta em seu tom.

- Eu estava velho demais, - disse ele com voz cansada, - tive vergonha.

- Vergonha?,- disse ela no auge do desespero.- Por quê? Eu sou livre. Você também.

- A idade... tive medo que você risse de mim, me desprezasse.

Ela olhou-o, triste.

- Eu? Eu que estremecia quando você passava? Que sonhava com você todas as horas, esperando que essa declaração acontecesse?

Lágrimas corriam dos olhos dela sobre as mãos deles apertando-se em desespero.

- Quanto tempo perdido!,- disse ele com amargura.

- Sim. Quantas horas de solidão e de angústia! Nós podíamos ter vivido muitos anos de felicidade.

- E a nossa idade?

- Nossos corações não têm idade.

- Você tem razão. Estou arrependido. Agora é tarde.

- Nunca é tarde. Ficarei a seu lado o mais possível. Cuidarei da sua saúde. Um dia construiremos nossa felicidade.

Mas apesar da dedicação de Marieta o Boanerges partiu, tendo demonstrado o mais puro amor.

Sentada na praça enquanto a tarde cai, Marieta conserva ainda entre as mãos o mesmo livro aberto que não lê.

Olha o banco vazio, e em pensamento vê o Boanerges ali, jornal às mãos, lendo ou meditando. Marieta pensa no tempo que poderia ter vivido com ele e não viveu.

Por que duas pessoas sozinhas que se amavam tanto, não tinham conseguido ser felizes? Pela milésima vez essa pergunta queimava-lhe o cérebro, e a resposta era sempre a mesma.

Preconceito. Puro preconceito. Só preconceito. Dele para com a idade física, dela para com o conceito que limita a ação da mulher colocando-a como passiva no jogo amoroso.

Por que não lhe demonstrara o amor que lhe ia no coração?

Orgulho, só orgulho. E ele, por que temera o ridículo de uma paixão depois dos 40 anos? Orgulho, só orgulho.

Marieta olhou o banco vazio e pensou:

- Se fosse hoje, tudo seria diferente.

Mas o tempo tinha passado e ela continuava sozinha.

Um dia, ela estava lá, no banco da praça e de repente quando olhou surpreendeu-se: O Boanerges estava lá, como da primeira vez que o vira. Forte, bonito, no bolso do seu paletó o mesmo jornal cuidadosamente dobrado. Mas, ele não lia, nem olhava o céu, as flores e a natureza, olhava para ela e sorria.

Ela levantou-se assustada:

- Boanerges! – disse admirada.

- Vem comigo Marieta. Vamos ser felizes!

Ela não titubeou, caminhou para ele e abraçou-o com amor. Suas pernas tremiam de emoção e seu coração batia tanto que parecia querer sair-lhe pela boca. Abraçou-o comovida e juntos, abraçados, seguiram tão entretidos e felizes que ela sequer percebeu que seu corpo ficara estendido frente ao banco onde tantas vezes tinha sonhado com a felicidade.

Sua bolsa marrom jazia no chão semi-aberta e seu velho livro de capa verde, rasgara-se na queda, tendo suas páginas levadas pelo vento que soprava forte.

Vozes de populares gritavam assustadas:

- Socorro, e velhinha desmaiou.

- Está morta – disse outro. – Pobre D. Marieta. Ela sentava-se sempre aí. Durante anos, eu a vi todas as tardes!

Estavam todos tão preocupados em socorrer-lhe o corpo e ninguém percebeu os dois vultos abraçados que, felizes, deixaram a bela praça rumo ao infinito...

zibia gasparetto - pedaços do cotidiano -

"S" DE SAUDADE


" QUANDO CHEGAR A MINHA HORA E EU PASSAR PARA O LADO DE LÁ, NÃO CHORE POR MIM, TEREI IDO FELIZ."

Nos últimos anos da sua vida Ela sempre dizia isso à sua amiga. Era como se não restasse mais nenhum caminho a percorrer, era como se fosse uma estrada que realmente chegava ao fim.

Se conheceram quatro décadas antes de tudo isso, ela então com cinqüenta e dois anos e sua doce amiga, apenas uma menina, com doze primaveras que desabrochavam como rosas coloridas.

Eram vizinhas, Ela uma mulher exuberante, pintora, independente, sempre com muitos compromissos sociais, sempre viajando mundo a fora. Havia algo porém, que nunca pôde ser explicado. Apesar de ser uma mulher um tanto seca e muito reservada , quando se deparava com aquela menina, se desmanchava, parecia que a vida para Ela parava ali por alguns instantes.

E o tempo foi passando e aquela menina se tornou uma mulher e Aquela mulher uma velhinha, sozinha, envolta completamente na solidão. Não tinha parentes, nunca se casou, não teve filhos, mas viveu uma vida de glória, cercada de gente, aquele tipo de gente que assim como entra em nossas vidas, também sai, rapidamente. Gente que só convive bem com o glamour.

Os anos foram passando, a amizade, os encontros, as conversas agradáveis nunca cessaram entre Ela e sua amiga menina. O mesmo encanto que Ela teve pela garotinha de doze anos no primeiro dia em que a viu, ela ainda tinha pela mulher madura, que no decorrer da vida veio a se tornar sua única e grande amiga.

Nos seus últimos anos de vida, afastada de tudo e de todos, com poucos recursos para sobreviver, as coisas se tornaram muito difíceis para Ela, no entanto a sua grande companheira não a abandonou e tentou ajudá-la em tudo que esteve ao seu alcance, desde a companhia, ao prato de comida.

Um dia, já perto de morrer, Ela realizou um pequeno sonho, foi rever uma exposição de Monet que acontecia na cidade em que vivia, Rio de Janeiro. Este foi um momento mágico para a menina/mulher, vê-la finalmente em seu habitat natural, junto da arte que tanto lhe encantou por toda a vida.

Mas a fraqueza daquele coração artista era cada vez maior e a idade também. Aquele compasso que durante tantos anos guiou suas mãos para pintar quadros maravilhosos estava perdendo seu rítmo.

Da janela de sua casa, podia observar a casa da sua amiga menina/mulher, mas especificamente o quarto dela, que tinha uma luz amarelada e indireta. Dizia sempre a ela: Adoro ficar da minha janela observando a luz difusa do seu quarto.

E chegou o dia da sua partida... foi sem se despedir... sem medo... sem desespero... sem arrependimentos...no silêncio de uma tarde, na solidão de sua casa.

Nesse dia sua amiga menina/mulher não viu a luz de sua casa se acender às seis da tarde como de costume, não viu nenhum tipo de movimentação e foi até lá... e suas batidas na porta foram em vão.

Ela entendeu o que estava acontecendo, mas se recusou a acreditar. Amigos a ajudaram a enfrentar aquele momento que já era esperado, mas que doeu tanto, que amargou uma enorme solidão na alma, que explodiu num grito e ecoou através de um rio de lágrimas.

Nunca saberemos a falta que alguém vai fazer em nossas vidas, até que ela nos deixe orfãs de sua presença. Essa foi uma certeza que a menina/mulher teve nesse dia.

Voltando pra casa depois daquela noite terrível a menina/mulher teve uma surpresa... da janela de seu quarto viu aquela mesma luz difusa amarelada que havia em seu quarto, na casa de sua amiga que havia partido. No dia seguinte foi até lá para apagar a tal luz.... reflexo aquele que nunca havia visto por lá antes... não havia nenhuma luz que tivesse sido esquecida acesa... e ela já sabia disso... ela entendeu no exato momento que viu aquela luz, que aquilo era apenas um adeus e um recado...: ESTOU BEM, PARTI ILUMINADA.

Depois de ter dito em vida, inúmeras vezes à sua doce amiga - "Você é a filha que eu nunca tive" - ela provou em morte que isso era verdade com um testamento:

"Tudo que eu tenho, deixo pra ela após minha morte... porque foi ela... tudo que eu tive em vida"

Ela se chamava -------- Suzanne Betous

A menina mulher ------- Silvana Duboc

Ambas com suas origens na França

Ambas artistas dentro do coração

Ambas com a mesma inicial em seus nomes

S...de Saudade!

In Memorian
Suzanne Therese Betous
- 04/09/1914 - 23/02/199

**Silvana Duboc**

A ÚLTIMA PEDRA



"Existem pessoas que não prestam atenção no que fazem e depois passam a vida inteira arrependidas pelo que não fizeram, mas poderiam ter feito, e se martirizam por seus erros."

© Roberto Shinyashiki

Gosto de uma música que Frank Sinatra costumava cantar, My way. O curioso é que só fui prestar atenção na letra dessa canção quando escrevia este texto. Ela diz mais ou menos assim: "Se eu acertei ou se errei, fiz isso da minha maneira".

Quando olho para trás, percebo que fiz muitas bobagens. Acertei bastante, mas também errei bastante. Quando olho para diante, tenho certeza de que vou acertar e errar bastante também. É impossível acertar sempre. Mas o importante é que não gastemos nosso tempo nem nossa energia nos torturando. A autocrítica pelo que não deu certo, além de ser nociva para a saúde, faz que a gente perca os passarinhos que a vida nos oferece no presente.

Um dia destes, um dos meus filhos me perguntou por que eu tomei determinada decisão estúpida tempos atrás. Respondi que me arrependia do que tinha feito, mas expliquei que, naquele momento, minha atitude me parecia lógica. Se eu tivesse o conhecimento e a maturidade de hoje, certamente a decisão seria diferente.

Por isso é que lhe digo: não se torture por algo que não deu certo no passado.

Talvez você tenha escolhido a pessoa errada para casar.
Talvez tenha saído da melhor empresa onde poderia trabalhar.
Talvez tenha mandado uma filha grávida embora de casa.
Não importa o que você fez, não se torture. Apenas perceba o que é possível fazer para consertar essa situação e faça. Se você sente culpa, perdoe-se. E, principalmente, compreenda que agiu assim porque, na ocasião, era o que achava melhor fazer.

Há uma história de que gosto muito: um pescador chegou à praia de madrugada para o trabalho e encontrou um saquinho cheio de pedras. Ainda no escuro começou a jogar as pedras no mar. Enquanto fazia isso, o dia foi clareando até que, ao se preparar para jogar a última pedra, percebeu que era preciosa! Ficou arrependido e comentou o incidente com um amigo que lhe disse:

- Realmente, seria melhor se você prestasse mais atenção no que faz, mas ainda bem que sobrou a última pedra!

Existem pessoas que não prestam atenção no que fazem e depois passam a vida inteira arrependidas pelo que não fizeram, mas poderiam ter feito, e se martirizam por seus erros. Se você está agindo assim, deixo-lhe uma mensagem especial: não gaste seu tempo com remorsos nem arrependimentos. Reconheça o erro que cometeu, peça desculpas e continue sua vida.

Você ainda tem muitas pedras preciosas no coração: muitos momentos lindos para viver e muitos erros para cometer. Aproveite as oportunidades e curta plenamente a vida. Curta os passarinhos. Eles são os presentes do universo para você!

**Roberto Shinyashiki é psiquiatra, palestrante e autor de 13 títulos, entre eles: Os Segredos dos Campeões, Tudo ou Nada, Heróis de Verdade, Amar Pode Dar Certo, O Sucesso é Ser Feliz e A Carícia Essencial
(Presente de Cristina Boro)

sábado, 21 de junho de 2008

O QUE É SOLIDÃO


Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo..... isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar..... isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos.....isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida.....isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado..... isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma .....
(By Chico Buarque)

FAZER AMOR.

Fazer Amor...Hum...
Fazer amor é pisar na eternidade...
Fazer amor é coisa séria demais...
Não basta um corpo e outro corpo
Misturados num desejo insosso
Desses que dão feito fome trivial
Nascida da gula descuidada
Aplacada sem zelo
Sem composturas, sem respeito
Atendendo exclusivamente a voracidade do apetite.

Fazer amor é percorrer as trilhas da alma
Uma alma tateando outra alma
Desvendando véus
Descobrindo profundezas
Penetrando nos escondidos
Sem pressa ...
Com delicadeza.
Porque alma
Tem textura de cristal
Deve ser tocada nas levezas
Apalpada com amaciamentos
Até que o corpo descubra
Cada uma das suas funções.
Quando a descoberta acontece
É que o ato de amor começa.
As mãos deslizam sobre as curvas
Como se tocando nuvens
A boca vai acordando e retirando gostos
Provando os sabores
Bebendo a seiva que jorra
Das nascentes escorrendo em dons.
É o côncavo e o convexo em amorosa conjunção.

Fazer amor é Ressurreição!
É nascer de novo!
No abraço que aperta sem sufocamentos
No beijo que cala a sede gritante
Na escalada dos degraus celestiais que levam ao gozo.
Vale chorar
Vale gemer
Vale gritar
Porque aí já se chegou ao paraíso
E qualquer som há de sair melódico e afinado
Seja grave, agudo, pianinho.
Há de ser sempre
O acorde faltante

Quando amantes
Iniciam o milagre do encontro.
Corpos se ajustaram
Almas matizaram.
Fez-se o Êxtase!
É o instante da Paz
É a escritura da serenidade
E os amantes em assunção pisam eternidades!
Autor - Desconhecido.

ABSTRAÇÕES

© Sylvia Cohin

há momentos que nem sei dizer
de quanto estou entre lá e cá,
do que se perdeu dentro de mim...

há momentos que nem sei se me enganei,
pensando que era mais além, acolá,
ou se nada havia em nenhum lugar...

há momentos que me confundo,
e envolta numa trilha nevoenta,
invento um mundo que nunca existiu
além de mim...

olhando a esmo sem nada entender,
acabo crendo que é só projeção
etérea e irreal...
o mais provável: tudo verdade, e eu,
uma invenção...

Sylvia Cohin
Porto, 17 de junho de 2008

sexta-feira, 20 de junho de 2008

ALTO PREÇO


Paguei um preço alto pelo amor que não tive.
Deixei no caminho minha esperança,
minha confiança, meu acreditar irrestrito.
Paguei o preço de amar sozinha.
Descobri que o tempo
não necessariamente cura,
nem ao menos ameniza,
mas esgota as possibilidades, cansa.
Paguei o preço em lágrimas,
em noites insones, em solidão
Fui tão fundo na minha dor
que tive medo de não encontrar
o caminho de volta.
Misturei loucura com razão
na tentativa de agarrar as lembranças.
Paguei o preço dos fracos
mesmo sendo forte.
Recusei a vida e as oportunidades,
até que não me restasse nada.
Paguei caro por ter oferecido amor
a quem sempre desejou tão pouco.
Cai e levantei inúmeras vezes,
fui adiante e voltei atrás depois.
Cedi meu espaço, cedi meus sonhos.
Até que percebi que nem isso
valeu como moeda de troca.
Recebi somente raiva, desprezo
e finalmente uma grande,
total, imensa indiferença.
Agora, estou tirando da minha vida
o pouco que resta da tua presença
Se por isso vou ter que pagar o preço
Nem me importa mais.
TUDO que quero é esquecer
que um dia o TUDO que eu quis
foi caminhar de mãos dadas com você
em busca dessa tal felicidade...
By Inez Sodré - 21/05/2008

IRRETOCÁVEL


© Silvana Duboc

Tenho cabelos vermelhos, pintados,
para esconder os fios brancos.

Não me lembro exatamente em que
ano eles começaram a branquear...

Tenho algumas rugas em volta dos olhos,
também não me recordo quando
elas começaram a aparecer.

Tento disfarçá-las, tantas novidades
no campo da dermatologia,
achei por bem aproveitá-las.

Do corpo não cuido quase,
só recentemente entrei para uma
academia por ordem médica.

Ele me disse que na minha
idade preciso de exercícios.
Mais falto mais do que vou,
não gosto de fazer ginástica.

Das minhas unhas cuido semanalmente,
penso que elas são uma porta de visita.
Unhas maltratadas causam
uma péssima impressão.

De uns dois anos pra cá descobri os
cremes e aí compro um aqui,
outro ali e no final não uso nenhum,
mas compro, só de olhá-los na prateleira
já percebo que as rugas se retraem.

Sou assim, vaidosa,
mas não sou em excesso,
penso que sou na medida certa,
na medida correta para uma mulher.

Enfim os anos passam e as
marcas que eles deixam em nós,
não temos como conter.
Nem pretendo isso.

Acho que cada marca que meu corpo
carrega tem uma linda história.

Às vezes me pego na frente do espelho
descobrindo uma nova ruguinha
e já me coloco a pensar o que a causou.

Depois reencontro com outra que já está lá
vincada há anos e me recordo que ela
apareceu quando perdi um grande amor.

Poderia enumerar também a história
de cada fio de cabelo branco.
Foram filhos, maridos,
amigos que colocaram eles ali.
Não quero me desfazer
de nenhuma dessas marcas,
apenas amenizá-las,
acho que mereço isso.
A vida me deve isso.

Atualmente a parte que merece mais
atenção minha tem sido a cabeça.
Tento todos os dias colocá-la no lugar,
equilibrá-la, alimentá-la
com sonhos e alegrias.
Corpo e mente caminham juntos,
se um estiver em estado lastimável o
outro provavelmente vai se deteriorar.

Não escondo minha idade,
não adiantaria falar
que tenho trinta e cinco
e apresentar uma
filha de vinte e sete.
Portanto eu confesso,
tenho quarenta e oito anos.
Metade deles, bem vividos,
a outra metade muito sofridos.

Mas é exatamente aí que está
o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um pouco,
das lágrimas aos sorrisos e ambos me
fizeram ser essa pessoa que sou hoje.

Ficaram as rugas no rosto e na alma,
mas também ficaram sorrisos em ambos.

Minhas rugas mais bonitas são aquelas
marcas de expressão que eu
adquiri por tanto sorrir,
muitas vezes,
quando o coração chorava.
03/07/2003

A MULHER DA MINHA VIDA



Mais uma noite insone e finalmente, diante dos meus olhos uma verdade que eu me recusava a ver.
Eu queria ser a mulher da tua vida, não consegui. Descubro, então, que eu preciso voltar a ser a mulher da minha vida.

Preciso abandonar velhas convicções, velhas certezas, velhos desejos e voltar pra mim. Restaurar esse meu coração que é o patrimônio histórico da minha humanidade. Preciso olhar pra dentro, ver o que restou, cuidar do que sobrou e reviver.
Preciso voltar para os meus braços, sentir novamente a segurança de ser acarinhada por mim, pensar em mim, amar a mim.

E para fazer isso, preciso abandonar você. Largar de mão a tua vida. Porque tantas vezes eu voltei para a tua vida e você nem soube. Fui tua, inúmeras vezes dentro da minha solidão. Estive te olhando, estive esperando, estive vivendo a tua vida. Está realmente na hora de abandonar você. Não por nada que você tenha feito, mas por mim. Para voltar a ser a mulher da minha vida.

Preciso ganhar uma lufada de vento no rosto, preciso enfiar areia no meio dos dedos dos pés, preciso sentir a água gelada do mar escorrer pelo meu corpo e saber que não morri, que sobrevivi depois do mergulho profundo desse afogamento de amor.
Preciso catar os cacos dessa dor estilhaçada, preciso catar os restos dessa tentativa frustrada, preciso aspirar as lágrimas empoeiradas pelo tempo e enterrar no fundo das minhas lembranças. Voltar a tona eu preciso.

E feito isso, preciso tomar posse da minha vida novamente. Preciso tirar de você o que te dei sem você querer. Preciso ser de novo dona de mim.
Porque se tenho defeitos ou qualidades não importa, o que importa é que tenho a certeza que sou hoje, a melhor opção para mim. Que sou o que eu mereço, que vivi intensamente tudo que desejei e isso fez de mim essa mulher que eu preciso, que me agrada, me seduz, me convence.
Hoje retomo as minhas rédeas para ser pra sempre; A MULHER DA MINHA PRÓPRIA VIDA.

By Inez Sodré - 03/12/2007

sábado, 14 de junho de 2008

QUANDO AMAMOS UM POETA


Amar um poeta nem sempre é fácil,
devemos saber separar o que é nosso
do que é para nós...
Devemos lembrar que seu coração é dividido,
entre o amor por nós e o seu sonho de amor.
Devemos aceitar seu olhar para a lua,
seus desejos pelo impossível,
suas lembranças de algo que nunca viveu...
Para amar um poeta,
é preciso que estejamos atentos
aos seus devaneios e às suas viagens imaginárias...
O poeta sente dor que não dói,
ama o que não conhece,
sente saudade do que nunca teve,
inventa sentimentos,
comete loucuras!
Se quer amar um poeta,
seja poeta também,
entre no seu mundo; ajude-o criar ilusões!
Se deseja entender um poeta,
esqueça do real,
viva na eternidade dos sonhos dele...

© Vilma Galvão

POEMA PARA A MULHER QUE PASSOU

Quando ela passou por mim, indiferente e distraída,
surpreendi-me a pensar, sem querer,
de repente em minha vida...

Fiquei a imaginar que se lhe acompanhasse os passos,
num lindo dia como o de hoje,
cheio de sugestões para os nossos desejos,
- talvez ela acabasse por me olhar, sorrindo,
e mais tarde talvez me desse as suas mãos,
e algum dia ficasse abrigada em meus braços
e quisesse os meus beijos...

Se eu a seguisse, ela que nunca me viu,
e passou distraída como se eu nem a visse,
se eu a seguisse pela rua em meio a tanta gente,
- talvez se transformasse toda a minha vida,
e ao encontro da sua,
minha estrada tomasse um rumo diferente...

No entanto ela se foi...
E enquanto eu me deixava a pensar,
quem sabe se não levou a metade dessa alma
que seria talvez a única metade
capaz de me completar?

Naquele segundo, - pressentimento estranho,
intuição fugaz, - quis correr, ir buscá-la...

Corri! ...
Fui procurá-la e era tarde demais...

Acaso já pensaste, na grandeza trágica
desse segundo irremediavelmente perdido?

Quem há de nos dizer se ele encerrava um mundo,
esse mundo por nós sonhado há tanto tempo
e há tanto tempo esperado e querido?

Quem há de nos dizer algum dia,
se ele era a única oportunidade,
que o Destino avarento e impiedoso
nos dera para a felicidade?

Ninguém! ... E ele passou!...
Pensa um momento na grandeza desse segundo atroz,
e terás a intuição dolorosa, a certeza
de que é precisamente num segundo desses
que a felicidade passa por nós!
Queres correr, é em vão!

Hoje estou certo
que nessa angústia eterna ficarás talvez,
- porque a felicidade que passou tão perto
da tua mão, só passa uma vez!

(J. G. de Araújo Jorge)