quarta-feira, 7 de outubro de 2015

UMA AMOR DE BOLERO



- Me abrace forte... Assim... Gostoso!... Como é próprio dessa dança que você mais gosta...
- Um bolero lento...
- Sim, um abraço de bolero, digamos, inocente... - diz achando graça do que diz.

Os pés nem se mexem, só as pernas que se tocam entremeadas. E um abre a boca pra dizer algo, mas não diz porque a música está um pouco alta, e o outro com o rosto colado pergunta:

- Que disse?
- Nada...
- Que ia dizer? .
- Só pensei...
- Que foi que pensou?
- Nada...
- Parece que ouvi...
- Acho que foi a música.
- Que música?
- Da minha alma – responde rindo.
- Mas eu ouvi...
- É o eco do meu coração, querida.
- Que é isso?
- Uma voz que ressoa na alma.
- Mas eu ouvi...
- É, quando o abraço é de alma ouve-se a voz do coração...
- Abraço de quê? Desculpe, a música está alta...
- Nada. Deixa pra lá, depois eu explico.

Dançam mais um pouco e a música pára, mas eles nem notam e continuam abraçados de olhos fechados no meio do salão.

- Está vendo o que está acontecendo ao redor?...
- Que é que está acontecendo?
- Já há muito que o bolero acabou e só nós estamos abraçados no meio do salão...
- Como se mais ninguém existisse no mundo...
- Não existe mesmo mais ninguém...
- Só nós...

Os dois estavam parados no meio do salão...
Finalmente olham meio envergonhados e vêem que todos os vêem assim parados.
Mas ouve-se um aplauso. E todos sem exceção batem palmas porque não há quem não se dobre diante de um encanto desses...

© Adelmario Sampaio © 2004

(Presente da Aurea)