segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

APRENDI


E assim, naquele dia que parecia como outro qualquer, meu mundo tornou-se cinzento. E assim, naquele dia que parecia como outro qualquer, decidi que o meu maior triunfo seria sobre mim mesmo.Aprendi que as quedas são estímulos para que aprendamos a levantar, com dignidade e com coragem.Aprendi que para olhar o mundo, é preciso estar no chão. Eu só o conhecia do alto da minha arrogância.Descobri que nunca tinha questionado se minhas ambições incluíam a ética.Aprendi que nada nos acontece por acaso. Sempre há um "para que".Descobri as caras feias que eu estava vendo nada mais eram que meus reflexos em milhares de espelho.Naquele dia descobri que meus rivais e meus desafetos eram apenas ameaças à minha insegurança.As sombras que me seguiam nada mais eram do que o reflexo negro da minha alma.Descobri que carregava em mim um Ego muito maior que eu.Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tenha sido.Descobri que as minhas ambições eram fruto da minha enorme onipotência.Naquele dia, deixei de ser um propagandista dos meus triunfos passados e passei a ser a minha luz do presente.Aprendi também que de nada serve ser luz se não posso iluminar o caminho dos demais.Naquele dia, deixei de ser o comercial do meu pseudo-conhecimento e passei a aprender um pouco mais.Aprendi também que de nada serve saber se não posso compartilhar e legar o conhecimento.Que para multiplicar o pão de cada dia, é preciso dividi-lo.Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim continuar a subida.Aprendi que a vitória duradoura não vem de sopetão. Ela é conquistada por etapas. Eu subi rápido demais, alto demais!Vi que na luta pelos meus objetivos, o maior é lutar. E que são os caminhos sofridos que nos amadurecem e domam.Aprendi que posso fazer qualquer coisa e arcar com a responsabilidade das quedas.Deixei de me importar com quem ganha ou perde, e me importar simplesmente com quem faz.Decidi ver cada problema como uma oportunidade para aprender a achar soluções.Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las.Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de recomeçar.Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.Aprendi que as palmeiras altas e eretas, nos dão uma lição de dignidade e postura, diante das intempéries da vida.Aprendi que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de chamar alguém de "amigo".Descobri que o amor é mais que um simples estado enamorado, "o amor é uma decisão de vida.Vi que não estava protegendo aqueles que eu amo. Quando o bem é precioso demais, todo zelo é pouco. E que eu não sou o bem mais precioso!Aprendi que a compaixão não é sentimentalismo e sim humanidade.Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para fazer a realidade.Aprendi que a imagem do inatingível é o que nos aciona para que o busquemos. Tudo para mim foi atingível.E desde aquele dia já não durmo para descansar simplesmente... durmo para sonhar!E desde aquele dia já não batalho para triunfar e sim para lutar no combate.E desde aquele dia já não vivo mais para ganhar e sim para viver.Para cair...Para levantar...Para continuar...Para chorar...Para perdoar... Para respeitar... Para amar...... Para aprender e para decidir sobre quem eu quero ser.(Presente de Erony)

É SAUDADE "PAI"


Lembro-me ainda, pai, daquelas manhãs em que sentia seu beijo sobre a minha testa, suas mãos alisando meus cabelos, ajeitando os cobertores e depois saindo do meu quarto nas pontas dos pés. Eu fingia que dormia, pai. Como era bom ouvir seus passos vindo para perto da minha cama ... sentir que seus olhos me fitavam com tanto amor (quase devoção). Docemente eu adormecia, sonhava com anjos vestidos de todas as cores e todos eles tinham os rostos iguais ao seu. Eu acordava, ainda sob a magia do seu toque, do seu carinho, da sua presença angelical e protetora.
Você sempre me pareceu o mais bonito de todos os homens, o mais inteligente, o mais sábio, o mais feliz só por me saber no mundo ... eu, sua semente germinada, seu fruto favorito, sua flor mais bem cuidada.
Lembro-me ainda, pai, das brincadeiras no quintal, dos safanões pelas minhas travessuras, do seu remorso depois. Sabe, pai? Eu me aproveitava dos seus remorsos para pedir coisas que queria, só para sentir que, apesar das minhas traquinagens, você me amava acima de tudo e sempre me perdoava. Até acabava achando graça ... não era assim, pai?
Em meio a essas lembranças, sinto vontade de partir com você para a "Terra do Nunca Crescer", onde as lágrimas são de manha, de mimo, de dengo ... que vontade, pai!
Hoje sou fruto maduro, uma planta crescida, uma flor toda aberta num jardim onde passa tanta gente, pai!
Olhando toda essa gente, imagino que todas (ou quase todas) sentem-se como eu. Isso me consola e faz-me seguir adiante, faz-me ir ao encontro da felicidade, que você sempre me assegurou que existe.
Não estou infeliz, pai. Apenas sinto saudade ... sinto falta de você ao meu lado como antes. Eis porque agora abro-lhe meu coração, minha alma e todo meu sentimento.
Nenhum outro homem marcará tanto a minha vida como você já marcou. Ninguém invadirá este lugar em mim onde para sempre você há de morar e onde sempre morou.
Pai, abrace as minhas lembranças e todo o meu amor.

domingo, 25 de janeiro de 2009

UNA TARDE TRANQUILA



Es ésta.. una tarde tranquila,
que me invita a soñar al son de la luz,
que se refleja
en las hojas húmedas del estanque,
en el chorro de agua que mana de la fuente,
en el trino alegre de los pájaros,
en los pétalos de las flores
que despid fragancia
por el jardín de mis recuerdos,
haciendo que beba por los ojos
todo cuanto contemplo,
para poder contártelo a ti,
ahora.
.
(María José)

SÓ DEPENDE DE NÓS



"Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem apoluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando odesperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim." (Charles Chaplin)

domingo, 18 de janeiro de 2009

DECLARAÇÃO DE AMORES PARA AS MULHERES


um lado, homens do outro. Não sei se hoje isso ainda ocorre. Sou anti-social a ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de 4 pessoas, o que não me credencia a emitir juízo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos. Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto observando tudo. Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas. A fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades. Explico: do lado masculino imperava o embate das comparações e disputas. Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite e outras cascatas típicas da macheza latina. Já do lado oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir. Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava. Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo. Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres. Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, freqüentando e levando bomba no bê-á-bá da vida, as mulheres já chegam na metade do segundo grau. Qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupações de ordem prática. Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso. Em outras palavras, ela já chega sabendo. E o que não sabe, intui. Já com os homens a historia é outra. Você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do Imposto de Renda? Não, nunca viram e nem verão. Porque o homem nasce, vive e morre uma existência juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos. E aí reside a maior diferença: o que para as meninas é treino para a vida, para os meninos é fantasia, é competição. É fuga. Falo sem o menor pudor. Sou direto. Sou assim. Todo homem é assim. Em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia. Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe. É só saber olhar. Todas têm sua graça. E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones de cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem. PORQUE TODA MULHER ACREDITA FIRMEMENTE NA POSSIBILIDADE DO HOMEM IDEAL. E esse é o seu único defeito.

AH, SE EU PUDESSE... »


Sylvia CohinPegar nas mãos minha ternura por tie na concha de meus dedos dar-lhe forma...Seria azul celestial...aquele azul que veste o espaço sideral.Morna seria...nem muito quente ou muito fria...morna seria o ideal...E com um toque mínimo que fosse,eu lhe daria um aroma divinalque te envolvesse num afago doce,quiçá, um tanto sensual...Finalmente,com um retoque magistral,eu lhe daria o tom de magiae a meiguice do brilho das estrelas,condensava em gotas de cristal...Assim, minha ternura tu veriasflutuando pro teu gozo e alegria,aconchegantee intemporal...SYLVIA

COHIN Preserve o Direito AutoralMantenha o crédito de autoria.

35 ANOS PARA SER FELIZ


Uma notinha instigante na Zero Hora de 30/09: foi realizado em Madri o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo? Não sei. Mas gostei do resultado.A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: "Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes". É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de tênis, um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 30 e sua vizinhança.Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem: depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara.Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.© Martha Medeiros35 anos para ser feliz
Uma notinha instigante na Zero Hora de 30/09: foi realizado em Madri o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo? Não sei. Mas gostei do resultado.A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: "Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes". É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de tênis, um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 30 e sua vizinhança.Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem: depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara.Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.© Martha Medeiros

UMA MULHER BONITA


O meu amigo é um fotógrafo famoso. Pediu que eu ficasse um pouco, até que ele escolhesse uma das fotos das modelos para um calendário. Olhei as fotografias, começando pelas descartadas, e parei numa que me encantou. — Escolho essa, – eu disse sem que me perguntasse. Ele riu. — É a nossa faxineira, - disse. – Estava só fazendo experiências com uns jogos de luz e a usei como cobaia. Você pode entender de poesia, amigo, mas não de foto e de beleza, - brincou. — Você pode entender de jogo de luz, e de foto, mas eu conheço o que é belo, até pelo cheiro, - eu disse. — Que há de belo nessa foto? – ele perguntou. — Na foto não sei. Mas a mulher é a mais bonita de todas... Ele pegou novamente a foto, aproximou dos olhos, afastou, chegou perto da luz, e dessa vez não riu, porque percebeu que eu falava sério. Olhou-me mais uma vez, e voltou os olhos para a foto sem graça, porque me conhece, e sabe que não brinco com o que é sério. Já havíamos conversado sobre a beleza, e ele sabe que não brinco com ela. Desligou os refletores, empurrou as outras fotos, e chegou mais perto da que indiquei, depois afastou-se sempre contemplando com interesse. Nisso a faxineira apareceu na porta, e perguntou se poderia ir embora, já que terminara o serviço. Ele disse que esperasse um minutinho, que precisava falar com ela sobre um outro trabalho que tinha. Ela olhou-me de relance, e saiu. — A sua beldade é essa aí, – ele disse meio zombando. — E afirma a minha posição. É mais bela que na foto. — Eu te conheço, e sei que é um belo poeta... E justamente porque é louco varrido, é que é poeta dos bons. Eu gosto muito do que faz, embora não tenha tempo de ler os teus devaneios, e acho que deveria se ocupar de coisa mais útil e rentável... Diga agora, o que é que há de bonito nessa mulher?!... — Tudo, - eu respondi. — Por exemplo?... — Tudo. Amigo, não seja cego. Ela é mais bonita que todas as outras que você fotografou, e ainda pagou por isso. Você ignora a moça, justamente porque a sua beleza está escondida do padrão... Parece um poema bem feito. A beleza dela é dupla. Digamos que uma evidência e um mistério ao mesmo tempo. A evidência é obvia demais para falar dela. Mas o mistério, só pode ser percebido por quem tenha um pouco de sensibilidade, e creio que você tem, e é por isso que é o profissional que é. Ele olhou novamente a foto. Demorou-se um pouco mais nisso. — O quê mais? – ele perguntou. — Amigo, a verdadeira beleza não pode ser descrita em palavras. Ela quando contemplada, faz com que o espírito se eleve de tal maneira que tudo o mais fica feio, se comparado. Essa mulher não pode ser comparada com ninguém que eu conheça. A beleza amigo, é o que vem da alma. A alma é que modela o coração. O coração é que modela o corpo. O corpo é que modela as vestes, os sapatos, as jóias, e tudo o mais que existe... Começa com a alma... — Quanto à alma, você tem toda a razão, mas... Ele levantou mais uma vez a foto, impressionado com o que eu dizia. Vi um gesto muito tênue de aprovação em seu rosto. Quando eu ia sair, pediu que dissesse para a moça que ele estava chamando-a. Passei por perto dela, e dei o recado. E antes de sair, brinquei com as palavras do ladrão da cruz: — "Lembra-te de mim quando entrares no teu reino". — Quê?... — Você vai ser promovida!... Ela arregalou os olhos. Eu tinha fama de profeta. Deve ter pensado que eu brincava que iria morrer. Pouco mais de uma semana depois, a vi na capa da primeira revista. Um mês depois, já eram muitas as capas. Depois a vi na televisão... Um dia eu estava sem dinheiro, e fui ver se o meu amigo tinha algum pra me emprestar, e a encontrei saindo do escritório dele, e entrando em um carro caro. Não me reconheceu, ou fez que não. Eu tinha certeza que era ela. Parecia-se um pouco com a mulher que eu conhecera na foto, mas não era mais bonita como aquela, embora todos em todos os lugares no mundo dissessem o contrário. O meu amigo recebeu-me com entusiasmo. — Viu a nossa rainha saindo?!... Lembra quando a descobrimos?... Balancei a cabeça que sim. — Um espetáculo, não? E pensar que eu estava com esse tesouro aqui perto, e não sabia... Não está linda!... – disse olhando a enorme foto da modelo na parede. Eu ri sem graça. Se insistisse, eu teria dito que a moça estava com uma pequena distorção na alma. Mas ele mudou de assunto: — Cara, estava tentando encontrar você!... Queria que olhasse umas fotos que eu tenho. Estou precisando encontrar uma mulher bonita, e sei que você tem muita sensibilidade para isso... Olhei as fotos que me entregou, e não encontrei nenhuma que me agradasse. Ele insistia mostrando mais e mais. Meu coração foi ficando cada vez mais triste, e tive que me despedir sem mesmo encontrar uma que sobressaísse. E até me esqueci do dinheiro que fui tomar emprestado... ® Adelmario Sampaio
Postado por Zé Carlos às
20.12.08

sábado, 17 de janeiro de 2009

ESCREVO O QUE NÃO SOU



**Rubem Alves Há uma pergunta que, quando feita a um poeta ou escritor, dói mais que picada de escorpião. A mim, pessoalmente, nunca fizeram. Mas fizeram a amigos meus. !Ele é do jeito mesmo como ele escreve?” É uma pergunta nascida do amor: acharam bonitas as coisas que escrevi e agora estão curiosos para saber se me pareço com o que escrevo. Como disse, nunca me fizeram a pergunta, diretamente. Mas eu respondo. “Não, eu não sou igual ao que escrevo”. Sou um fingidor. Quem disse isso, que o poeta é um fingidor, foi Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor.Finge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente. Fingir é palavra feia. Sugere uma mentira, com o intuito de enganar. No mundo de Fernando Pessoa ela tem um outro sentido. Fingimento é aquilo que faz o ator no teatro: para representar ele tem de “fingir” sentimentos que não são dele. E finge tão completamente que sente, realmente, uma dor que não é dele, mas de um personagem fictício, ausente. Assim é o poeta. Como pessoa comum, ele sofre. Essa pessoa sofredora não sabe escrever poemas. Ela só sabe sofrer. Mas nessa pessoa que sofre mora um outro, o poeta, o duplo, heterônimo. Esse poeta olha para si mesmo, sofredor, e “finge”: deixa-se possuir por aquela dor que é dele como se fosse de um outro: “chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”. Sou um fingidor. O que escrevo é melhor que eu. Finjo ser um outro. O texto é mais bonito que o escritor. Fernando Pessoa se espantava com isso. Ele tinha clara consciência de que ele era muito pequeno quando comparado com a sua obra. Num dos seus poemas ele diz o seguinte: Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto?De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Vinha-lhe então a suspeita de que aquilo que ele escrevia não era obra dele, mas de um outro: Seremos nós neste mundo apenas canetas com tintaCom que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos? Contaram-me que ele, Fernando Pessoa, certa vez, aceitou encontrar-se com Cecília Meireles, e marcaram lugar, data e hora para o dito encontro. Cecília compareceu e esperou. Pessoa não foi e mandou, no seu lugar, um menino com uma desculpa esfarrapada. Esse incidente sempre me intrigou. Será que Pessoa era um grosseiro indelicado? Depois, lendo o Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, encontrei uma curta afirmação que esclareceu tudo: “Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver.” Ao marcar o encontro com Cecília, movido pela delicadeza ou entusiasmo, ele se esqueceu disso. Foi só na hora que lembrou. Cecília amava os seus poemas. Na ausência, certamente, fizera aquilo que todos fazem: imaginou que o poeta se parecia com os seus poemas. Agora, em algum hotel de Lisboa, ela se preparava para se encontrar com a beleza dos poemas na sua forma viva, verbo feito carne. A decepção seria muito grande. “Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver” Assim, para poupar Cecília da decepção, ele preferiu não aparecer. Àqueles que fazem essa pergunta a meu respeito, que imaginam que eu possa ser parecido com o que escrevo, aconselho: “Não compareçam ao encontro. Fiquem com o texto.” Não é mentira, não é falsidade: a poesia é sempre assim. A poesia não é uma expressão do ser do poeta. A poesia é uma expressão do não-ser do poeta. O que escrevo não é o que tenho; é o que me falta. Escrevo porque tenho sede e não tenho água. Sou pote. A poesia é água. O pote é um pedaço de não-ser cercado de argila por todos os lados, menos um. O pote é útil porque ele é um vazio que se pode carregar. Nesse vazio que não mata a sede de ninguém pode-se colher, na fonte, a água que mata a sede. Poeta é pote. Poesia é água. Pote não se parece com água. Poeta não se parece com poesia. O pote contém a água. No corpo do poeta estão as nascentes da poesia. Escher, o desenhista mágico holandês, tem um desenho chamado Poça de Lama: numa estrada encharcada pela chuva um caminhão deixou as marcas dos seu pneus, onde a água barrenta se empossou. Coisas feia e sujas, as marcas dos pneus de um caminhão, cheias de água barrenta: nenhum turista seria tolo de fotografar uma delas, quando há tantas coisas coloridas para serem fotografadas. Pois Escher desenhou uma delas. E o que ele viu é motivo de espanto: na superfície de lama suja, refletidas, as copas dos pinheiros contra o céu azul. Pensei que a poesia é isso: poça de lama onde se reflete algo que ela mesma não contém. A copa dos pinheiros contra o céu azul não está dentro da lama, não é parte do ser da lama. Apenas reflexo: mora no seu não-ser. Pensei que assim é o poeta: poça de lama onde o céu se reflete. Nietzsche, escrevendo sobre a poesia de Ésquilo, diz que ela “é apenas uma imagem luminosa de nuvens e céu refletida no lago negro da tristeza”. E Fernando Pessoa, no poema daquele verso que todo mundo canta – Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena -, diz o seguinte: Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu. É nessa contradição: o céu se fazendo visível, refletido, na poça de lama, no lago negro da tristeza, no perigo e no abismo do mar. Não. Não escrevo o que sou. Escrevo o que não sou. Sou pedra. Escrevo pássaro. Sou tristeza. Escrevo alegria. A poesia é sempre o reverso das coisas. Não se trata de mentira. É que nós somos corpos dilacerados – “Oh! Pedaço arrancado de mim!” O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas, presença de ausências, daí a saudade, que é quando o corpo não está onde está... O poeta escreve para invocar essa coisa ausente. Toda poesia é um

SOLIDÃO



Solidão... Tu sabes o que é solidão?Se nunca foste solitário não sabes. É não ter ninguém em casa, nem na mesa, nem no leito.É um anseio perene no teu peito...É acordar todo dia nauseado e infeliz.É transmitir às paredes o que o coração diz...Falar sozinho para não emudecer...Não ter um confidente...Ninguém, mesmo silente.É perder o prazer de comer... É emagrecer sem querer. É conseguir dormir só com remédio... É não poder afugentar o tédio... Não ter paciência para ler... Ir ao cinema e não conseguir ver... Ir ao teatro e não participar... É nunca ter companhia.. Ligar o rádio o dia inteiro... Ouvir música e não ter com quem dançar... Fingir estar alegre para os amigos não importunar... É ter um pesadelo e ninguém vir acudir... Sentir dor, sem ter ninguém para ajudar... Fazer negócios e a responsabilidade não poder repartir... É ter dinheiro para viajar e não querer sair... Tentar preencher a vida e nada interessar... É ver as coisas lindas do mundo e não se sensibilizar... É precisar de um afago, e só encontrar o vago... É querer acarinhar e não ter a quem... É ter o coração cheio de amor e sufocar... É amar em silêncio... É auto reprimir-se para não se sentir humano... É não ter ninguém que as lágrimas te enxugue, com beijos solidários de carinho... É ter o coração rasgado e sangrando pelo caminho... É olhar para o futuro e só ver escuro... É processar lavagem cerebral para não pensar... É quase não poder continuar...(AD)(Presente de Vera Perdigão) .: Zé Carlos