sábado, 25 de junho de 2011

É SAUDADE PAI - Silvia Schmidt


Lembro-me ainda, pai, daquelas manhãs em que sentia seu beijo sobre a minha testa,
suas mãos alisando meus cabelos, ajeitando os cobertores e depois saindo do meu quarto
nas pontas dos pés. Eu fingia que dormia, pai.
Como era bom ouvir seus passos vindo para perto da minha cama ...
sentir que seus olhos me fitavam com tanto amor (quase devoção).
Docemente eu adormecia, sonhava com anjos vestidos de todas as cores
e todos eles tinham os rostos iguais ao seu.
Eu acordava, ainda sob a magia do seu toque, do seu carinho,
da sua presença angelical e protetora.

Você sempre me pareceu o mais bonito de todos os homens, o mais inteligente,
o mais sábio, o mais feliz só por me saber no mundo ...
eu, sua semente germinada, seu fruto favorito, sua flor mais bem cuidada.

Lembro-me ainda, pai, das brincadeiras no quintal,
dos safanões pelas minhas travessuras, do seu remorso depois.
Sabe, pai?
Eu me aproveitava dos seus remorsos para pedir coisas que queria,
só para sentir que, apesar das minhas traquinagens,
você me amava acima de tudo e sempre me perdoava.
Até acabava achando graça ... não era assim, pai?

Em meio a essas lembranças, sinto vontade de partir com você para a
"Terra do Nunca Crescer", onde as lágrimas são de manha, de mimo,
de dengo ... que vontade, pai!

Hoje sou fruto maduro, uma planta crescida, uma flor toda aberta num jardim
onde passa tanta gente, pai!

Olhando toda essa gente, imagino que todas (ou quase todas) sentem-se como eu.
Isso me consola e faz-me seguir adiante, faz-me ir ao encontro da felicidade,
que você sempre me assegurou que existe.

Não estou infeliz, pai.
Apenas sinto saudade ... sinto falta de você ao meu lado como antes.
Eis porque agora abro-lhe meu coração, minha alma e todo meu sentimento.

Nenhum outro homem marcará tanto a minha vida como você já marcou.
Ninguém invadirá este lugar em mim onde para sempre você há de morar
e onde sempre morou.

Pai, abrace as minhas lembranças e todo o meu amor.

TENS O MEU PERDÃO - Silvia schmidt


perdôo pelo mal que me fizeste,
Pelas palavras ditas sem pensar.
Eu te perdôo porque em meu lugar
Em tua vida nunca tu estiveste.

Eu te perdôo pela cicatriz
Que tu deixaste ao atingir-me a alma.
Eu te perdôo por não ler na palma
Da minha mão o quanto fui feliz.

Feliz num tempo em que apostei em ti
Tão cegamente que não percebi
Quanto da vida eu pus a se perder.

Eu te perdôo, sim, porque morreste
No coração - onde tu já estiveste -
Que nunca mais há de te receber.

O CEGO E O PUBLICITÁRIO


Havia um cego sentado na calçada em Paris, com um boné a seus pés e um pedaço
de madeira que, escrito com giz branco, dizia:

" Por favor, ajude-me, sou cego ".


Um publicitário, da área de criação, que passava em frente a ele,
parou e viu umas poucas moedas no boné.
Sem pedir licença, pegou o cartaz, virou-o,
pegou o giz e escreveu outro anúncio.

Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora.

Pela tarde o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola.
Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas.

O cego reconheceu as pisadas e lhe perguntou se havia sido ele
quem reescreveu seu cartaz, sobretudo querendo saber o que havia escrito ali.
O publicitário respondeu:

" Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras ".

Sorriu e continuou seu caminho.
O cego nunca soube, mas seu novo cartaz dizia:


HOJE É PRIMAVERA EM PARIS E EU NÃO POSSO VÊ-LA!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

POEMA DE ANIVERSÁRIO - VINICIUS DE MORAIS


Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte...

Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas, tudo o que nunca foi dado por um homem à sua Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma.

Gostaria de dar-te, Namorada, aquela madrugada em que, pela primeira vez, as brancas moléculas do papel diante de mim dilataram-se ante o mistério da poesia subitamente incorporada; e dá-Ia com tudo o que nela havia de silencioso e inefável.
... dorme, que assim
dormirás um dia
na minha poesia
de um sono sem fim...
Dedicado a Cascata.

terça-feira, 21 de junho de 2011

REVELAÇÕES DE MIM - Eduardo Baqueiro-


Se um dia eu entrar em tua casa não te assustes
Foi a saudade que apertou demais meu coração...
Se sentires uma presença em teu quarto não te alardes
Sou eu que venho implorar teu amor
É o desejo que sinto por ti...

Se um dia tocarem teu corpo não te assustes
Sou eu, venho conferir o amor que me juras
Não que não acredite em tuas palavras
Mas meu corpo necessita sentir teu calor...

Se chegar sem muito falar,
olhe bem em meus olhos
Escute o que eles têm para te falar
Não te surpreendas com o que ouvires deles
Será a verdade guardada em meu peito
que eles te dirão...

Se eu nada disser,
não fiques preocupada, relaxa
Apenas me abras teus braços
e digas que me ama
Não quero ouvir mais nada...
Quero apenas sentir teu ritmo em contato
com meu corpo!

Se invadir tua intimidade não te preocupes
com teus segredos
Estarão todos guardados dentro de mim
E de lá jamais sairão...

Mas não me negues teu carinho e teu amor
Chegarei como um mendigo faminto!
Saberás o que desejo com apenas um olhar
Mata minha fome e a sede que tenho de ti!

Não ficarei muito tempo,
não quero roubar-te o sossego
Ficarei o suficiente para marcar teu coração
Para matar minha vontade de ti
E para matar tua sede de mim...

Assim como entrei, sairei de tua vida
Mas nunca mais seremos os mesmos...
Sentiremos na alma que a felicidade é real
Apenas ainda não podemos alcançá-lá.

Levarei o gosto de tua boca
O sal de teu suor em contato com minha língua
Levarei além de tua doce lembrança
A certeza de que não somos apenas um caso
Somos duas almas a caminho da perfeição

FEITO CRIANÇA - Fátima Irene Pinto -


Deixe-me gostar de você feito criança porque descobri que é o único jeito que consigo gostar de verdade, sem confusão, sem hipocrisia. Deixe-me gostar de você da forma mais simples, sem porquês, sem perguntas, sem articulações.

Se eu ou você pensarmos muito e nos colocarmos sob o crivo da razão, teremos que ver entre as nossas qualidades também os nossos defeitos. Teremos que ver a treva que coabita com a nossa luz. Então deixe-me gostar de você como criança. Criança gosta sem pensar.

Deixe-me gostar de você sem cobranças, sem compromissos que não sejam aqueles que nós dois estabelecemos para nós mesmos e não aqueles que os homens inventaram que devemos seguir à risca, toda vez que resolvemos gostar. Deixe-me gostar de você da forma mais inocente que eu puder.

Neste gostar permita-me descartar toda a cultura, filosofia, modismos, conceitos ou preconceitos, dogmas, todo e qualquer mandamento ou imposição que venham de fora. Quero apenas ouvir meu coração, assim como quero que você ouça o seu.

Se eu ficar com você um minuto, uma semana, um mês ou um ano, que seja pelo real prazer de ficar, pois aprendi que não é a duração, mas a qualidade que transforma um único minuto numa experiência com gosto de eternidade. Deixe-me gostar de você sem expectativa, sem planos para o futuro, sem gaiolas que limitem o meu querer porque o futuro é tão incerto e nunca é do jeito que pensamos. Se nos gostarmos de verdade, é possível que haja muitas ações no presente, e é só isto o que verdadeiramente importa.

Acima de tudo, deixe-me gostar de você deixando-o completamente livre para ficar ou para partir. Deixe-me gostar de você sem máscaras e sem verniz. E se um dia eu disser adeus e partir, creia, será no exato momento em que descobrir que já não sou mais capaz de me fazer ou de o/a fazer feliz.