quinta-feira, 29 de agosto de 2013

VEM

Vem
Abraça-me com carinho
Cobre-me de beijos

Deixa-me sentir por um momento
Que eternizarei a paz que me invade
Deixa-me expor meu lado vulnerável,
Mostrar-me indefesa, confiante na tua proteção.

Ama o meu corpo
Em comunhão com minha alma
Deixa a tua mão correr livre
Por entre os meus segredos de mulher

Brinda-me com o êxtase da felicidade.
Comungue com o meu amor

Abraça-me
E minha boca beijará a tua pele,
Revivendo a emoção deste momento

E sentindo-me forte
Serei mulher, a tua mulher!

Por Rosangela (no ano de 1978)

AS MINEIRAS.

© Carlos Drummond de Andrade

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.
Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo ficou de fora? Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso?

Assino achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem:'pó parar').

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz de direito, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, é claro - ele é bom de serviço..

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?' Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).

O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício. Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: 'E aí, vão?'. Traduzo: 'E aí, vamos?'. Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. No supermercado, não faz muitas compras, ele compra'um tanto de coisa'. O supermercado não estará lotado, ele terá 'um tanto de gente'. Se a fila do caixa não anda, é porque está 'agarrando' lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora! Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: Ai, gente, que dó. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.

Não vem caçar confusão pro meu lado. Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.
Leitor, você é meio burrinho ou é impressão? A propósito, um mineiro não pergunta: 'você não vai?'. A pergunta, mineiramente falando, seria: 'cê não anima de ir'? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.

Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema.. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão.
Se você, em conversa, falar:- Ah, fui lá comprar umas coisas... Que' s coisa? - ela retrucará. O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que. A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios em Minas...

Ontem, uma senhora docemente me consolou: 'prôcupa não, bobo!'. E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.

A fórmula mineira é sintética. E diz tudo. Até o 'tchau' em Minas é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: 'tchau procê', 'tchau procês'. É útil deixar claro o destinatário
do tchau. Então... chau procês!


'Quando os homens são puros,
as leis são desnecessárias;
quando são corruptos,
elas são inúteis'!
(Disraeli)

(Presente da Rita Mineira...)

ONDE FOR VÁ ...... SER ESTRELA - Rosana Braga

Onde... Vá para vá ser estrela!

Numa dessas segundas-feiras em que a gente tem a impressão de que deveria ter ficado em casa, eu estava realmente irritada. Alguns obstáculos no trabalho, pouco tempo para muita tarefa e eu atrasada para um compromisso...

Saí dirigindo rumo ao meu destino; tensa, ligada no piloto automático. Parei no semáforo do cruzamento entre a França Pinto e a Domingos de Moraes, zona Sul de SP. De repente, ouço uma voz do lado de fora dizendo:
- Posso cantar uma música para você?

Olhei assustada, pensando Lá vem pedido de dinheiro, de novo!. Fiquei constrangida em negar um pedido tão diferente e disse que sim, afinal ele tinha até o violão! Antes, ele avisou: é do Alceu Valença. E começou a tocar aquela, justamente aquela que eu adoro – La Belle du Jour.

O sujeito de pele morena, vestido de maneira extremamente simples, cantava só pra mim em plena tarde na louca cidade. A cena era, no mínimo, mágica. Desliguei o rádio do carro; o celular tocou e eu não atendi. A voz dele ia apaziguando meu coração agitado.

Lembrei-me de que teria de dar o tal trocado, mas raramente ando com dinheiro. Encontrei na bolsa R$0,75 (isso mesmo: setenta e cinco centavos!). Quando ele terminou, eu estava um tanto atordoada com o encantamento provocado por aquela surpresa. O que um artista como ele estaria fazendo num semáforo, cantando em troca de gorjeta?!?

Sorri, agradecida por tão singelo presente e, ao mesmo tempo, chateada por ter tão pouco para pagá-lo. E ele ainda me disse, ao pegar as duas moedas:
- Muito obrigado por me ouvir. Você é muito simpática!

O semáforo abriu e fui embora, mas não consegui parar de pensar no que havia acontecido. Já não estava tensa. Todo o cenário do meu dia havia se transformado por causa daquele homem e seu dom. Eu me sentia a própria Belle du Jour.

Fiz aquele mesmo caminho durante vários dias depois, em horários diversos... mas nunca mais vi aquela ‘estrela’ com violão nas mãos e magias escondidas na boca para dar de presente a quem precisasse.

Hoje, fico me perguntando se fora realmente um homem ou um anjo. Talvez fosse mais racional pensar que ele simplesmente migrou para outro semáforo qualquer, mas prefiro acreditar que tenha sido um anjo. Afinal, a vida é exatamente aquilo que acreditamos que ela seja.

Bem melhor, portanto, pensar em encantamentos, presentes, surpresas, anjos e fadas, como se a nossa história fosse enredo de um lindo filme campeão de bilheterias. Gosto de pensar que o Grande Diretor me convidou para ser a protagonista do filme que vivencio todos os dias, pois assim fica muito mais romântico, interessante, empolgante e inspirador.

E é por isso que, a despeito de qualquer tristeza, de todas as dores e os eventuais problemas, continuo acreditando no amor. E desejo que você também acredite, porque basta que desejemos o amor... e haverá amor!

Onde vá... Vá para ser estrela!

domingo, 18 de agosto de 2013

SOLIDÃO A DOIS = Oriza Martins.

Pra onde foi o carinho
Que aquecia nosso ninho,
E empolgava o coração?
Precisamos conversar,
Vamos tentar resgatar
Nossa antiga paixão...

Sinto falta dos momentos
De doces encantamentos,
Da intimidade, o ardor...
Agora há tal frieza
Que já não tenho certeza
Se entre nós existe amor...

Vamos falar francamente
Sobre o que há com a gente,
Não deixemos pra depois,
Porque estamos vivendo,
(vivendo não - padecendo)
Uma solidão a dois!...

O CUME DOS TEUS OLHOS - NOVA LENTE -

Agora acredito no que os teus olhos queriam me dizer. É toda a verdade. A verdade pestanejava neles enquanto eu me recusava a encará-la. Havia ainda um modo diferente de enxergar o mundo além do que eu estava acostumado a me apoiar. Como se teus olhos estivessem tentando me guiar para o cume de um penhasco no qual eu seguia vendado, opcionalmente cego, por medo de cair dele ― ou dentro deles. E olha, eu nunca tive medo de altura. Talvez porque não fazia parte dos meus planos me desprender de tudo para me perder em alguém como você. Embora agora não seja mais da minha parte escolher algo que me possa (re)partir. Às vezes a gente se descobre em outra pessoa. Então, por favor, não me olhe assim, eu jamais trocaria você por alguém como você.

Antes de tudo, eu poderia começar abrindo meus olhos. É deles que enxergo a épica história do quase. Mas as coisas melhoraram desde que eu soube enxergar o lado bom das coisas. Ainda que exista uma ótica completamente exótica a ser descoberta, meu foco melhorou muito desde que você se tornou meu ponto de foco. E não há ponto de fuga para me levar para outras paisagens, ou melodia para me tirar da lembrança a tua voz. No momento, enquanto não ponho os olhos em ti novamente, tuas lembranças são o que tenho à me prender. Porque eu não gosto daquela sensação de queda livre. Eu gosto de ter no que me segurar, ou melhor, em quem.

Veja que eu não quero ter razão, porque antes eu podia dizer que eu te entendia, mas algo mudou, agora eu te sinto. Eu suportaria viver sem ter razão sobre coisa alguma, mas eu morreria se eu não pudesse amar. Sendo a vida tão fácil em se mostrar difícil; nunca duvidei de nada ou de tudo. E desde que cravei meus olhos nos teus, estou paralisado em teu olhar, e mesmo quando você não está a minha frente, eu me foco nas lembranças. Me deixo ao que me foi deixado. E não me sinto só. Porque agora eu sei, agora eu vejo, e a verdade: agora eu sinto.

"Uma coisa eu sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo."

domingo, 4 de agosto de 2013

TÃO MEU.

Você é um erro que eu já havia cometido antes. Um erro que já havia prometido a mim mesma que não cometeria mais, um pedido íntimo para ser menos impulsiva. Mas não deu. Eu não consegui resistir àquele seu jeito de olhar e o mundo de possibilidades que eu enxerguei através disso. Não resisti ao calor, ao sufoco, à intensidade. Havia uma chama, entende? Mas o tempo passa e apaga as chamas, com sorte deixa alguma brasa apenas. E eu sempre esqueço que o tempo vai passar e destruir essas chamas que eu uso para aquecer mais meus caminhos.

Você é um sonho que eu já havia sonhado antes. Mais uma daquelas fantasias que eu pensei que a idade curaria. Não deu de novo. Sou imune a certas curas e totalmente propensa a certas doenças. A doença do romantismo, por exemplo. É sempre ela que me empurra para os mesmos erros, as mesmas esperanças , efeitos colaterais que até passam, mas que deixam cicatrizes.

Você é uma vontade que eu já senti antes. Uma provocação, uma insistência, um absurdo. Você é a lição que eu pensei que já tivesse aprendido. É meu céu e meu inferno. É mais um dos meus grandes enganos à espera de algo definitivo. Sim, eu gosto do movimento, nunca digo não a ele, mas espero ansiosa por algo que me faça aquietar. E eu quis tanto que fosse você!

Deve ser porque, apesar de tudo isso, você é a presença que eu não havia tido ainda. Você é o retrato de um empenho que eu ainda não tinha experimentado; é a confluência de uma série de capacidades que eu não sabia que possuía. Você é a dedicação, a tolerância, a paciência, a vontade que eu não fazia ideia que pudesse ter.

Você é o encontro que eu ansiava, mas que eu nem achava que vinha. É a maior espera da minha vida! Você é um misto de satisfação e revolta que vem e volta, uma montanha russa instalada bem no meio do meu estômago. As vezes tenho vontade de te bater, mas todo o meu corpo só sabe mesmo é te carinhar.

Você é o amor que eu ainda não havia sentido. Um amor que eu não conhecia, não entendia, não alcançava. Você é o símbolo do meu inimaginável, o meu maior desafio. Quantas e quantas vezes eu pensei em sair correndo de você! No entanto, são maiores ainda as vezes em que eu não consigo me ver longe disso tudo que você me traz todos os dias. Sim, foram muitas as vezes que eu pensei que isso era qualquer coisa, menos amor. Mas foram incontáveis as vezes em que eu tive certeza de que é o maior amor que eu já pude sentir.

Você é a contradição da minha própria verdade: a chama que o tempo apaga mas que acende de novo quando eu menos imagino; o erro que, de tanto ser cometido, acaba virando acerto; o sonho que se realiza todos os dias; a espera que dói mas da qual não consigo abrir mão. Você é a coragem que se renova conforme o perigo.

Talvez você seja tão meu, mas tão meu, que por isso mesmo causa essa bagunça toda. Afinal, só alguém realmente meu conseguiria desbravar tanto esse tudo que sou eu.
Postado por Aliz - jornALIZta às 11:17