terça-feira, 30 de outubro de 2012

LISPECTOR CLARICE

“Acredito que as pessoas aprendem com os próprios erros e com o tempo. Acredito também que quem traiu uma vez e foi perdoado vai trair de novo. Acredito que aquelas pessoas que vivem falando mal dos outros vão falar mal de você com esses outros. Acredito que as pessoas só mudam por vontade própria e nunca pelo pedido de outra pessoa. Acredito que tudo que eu acredito hoje vai mudar com o tempo. E que, no futuro, talvez, eu acredite em menos coisas. Ou em nada mais.”
(Clarice Lispector)

DA FALTA QUE VOCÊ FAZ DE QUEM JÁ FOI

Me perguntam sobre você e já nem sei dizer. Não te perdi de vista, mas me perdi de você. Vasculho meu coração tentando interpretar o que sinto quando o assunto é você. Não te amo mais. Digo e repito, todos os dias. Talvez pra que eu mesmo possa acreditar nisso. Mas é que amor, meu bem, amor precisa da gente por perto, da gente alimentando nosso dia a dia, nossa vontade de abraçar o mundo inteiro e colocar o outro lá dentro. No meu caso, o outro é você. Mas é que você não está aqui entende?! Na verdade eu não sei nada sobre a falta que você faz. Mas sei muito sobre a falta que faz quem você foi. Já faz tanto tempo. Me falta você no meu dia a dia, nas minhas manhãs de chuva quando o teu abraço apertado me protegia da tempestade que escorria pela janela. Me falta você no supermercado quando procuro nutella pra comer com biscoito de madrugada. Me falta você no calçadão em dia de lua bonita. Me falta sua mão na minha quando eu caminho. Me falta o seu cheiro no travesseiro, no lençol, na minha roupa. Me falta você na fila do cinema, me falta você na balada de sábado com os amigos, quando o melhor amigo sempre foi você. Me falta você pra me levar pra casa, me perguntar o que quero comer e se aguento ficar acordada mais um pouco. Me falta você em meus dias tristes pra ouvir seu tom de voz calmo e confortante que me acolhia a alma inteira de uma vez só. Me falta você nos dias alegres, nas boas notícias que não te tenho mais pra dividir. Me falta você nas minhas birras, nas minhas crises, o seu colo. Me falta você nos programas de família, nos jantarzinhos surpresa, nas flores sempre diferentes. Me falta você no meu aniversário, na virada do ano, no meu álbum de formatura. Me falta você nas mensagens do meu celular, nas ligações que recebo antes de dormir. Me falta você quando o mundo tá girando lá fora e continua tudo parado aqui dentro. Nada permanece inalterado. Você nem é mais nada do que me falta.
Mas a falta que sinto é de você. É a falta que faz quem você foi.
Por, Janaína S.

DEIXA - LORY CAPITU


Deixei a chave do lado de fora da porta. E ele entrou. Deixei minhas armadilhas ao lado da cama, e ali ele logo se deitou. Deixei meu coração sem defesa por um instante – e ele o arrebatou.

Aqui estou, tarde longa de domingo distraído, quase sem vento, quase sem solidão, à espera de uma sensação qualquer que possa ordenar a multidão de vontadezinhas e pensamentozinhos e fantasiazinhas e pedacinhos tortos de mim mesma espalhados nessa bagunça sem-fim. O telefone não vai tocar, o e-mail não vai chegar. Nem virão a carta, o verso, a foto, o postal. Me escapam a inspiração e o apetite; mas não há fome nem dor, apenas um leve calor de carne que existe, de sangue que corre, de desejo que acende, de mulher que ama. Falta ele, e ele faz falta.

As horas se arrastam para fazer companhia à minha espera. Drummond repousa na mesa de cabeceira, repetindo: reserve-se toda para as bodas que ninguém sabe quando virão, se é que virão. Aperto os lábios abortando um quase-soluço, tropeço na saudade e sujo as paredes com certas canções lacrimosas. Ele faz falta.

Deixei um mapa especialmente feito para ele, mas ele não voltou.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

CARTA AO AMADO

Gosto dos momentos em que você está comigo,
gosto de dividir meus dias e meu espaço com você,
gosto quando você se arvora de meu protetor e me toma conta,
gosto das coisas que me diz, gosto quando me toca...
amo a sua naturalidade, a sua simplicidade
e quando divide sonhos e segredos comigo...

Não importa se há muita gente em volta,
- ficamos sozinhos, sempre...
Não importa se são poucos minutos
ou dias inteiros,
- para nós basta um momento...
Não importa se a intimidade fica longe,
por motivos alheios ao nosso desejo
- ela se faz pelo nosso olhar...

... E quando você se vai, fica em mim uma sensação gostosa,
que solidão parece nunca existir...
Não me lembro ter sentido em toda a minha vida de mulher
uma sensação que se assemelhe ao que sinto agora:
de acanhamento, de completude, de uma felicidade culposa
por estar sendo feliz...

(Quero passar o resto da minha vida com você).
Se os dias que a gente viver lado a lado
forem parecidos com isso que acontece
todas as vezes em que estamos juntos,
a felicidade existe
e eu quero manter o gosto dela
na minha vida...

(Isso é amor?
Então, eu amo você)....

Maria Tereza