segunda-feira, 31 de março de 2008

MULHER FACEIRA


® Artur da Távola

Ninguém mais sabe o que é ser faceira. A palavra foi se desgastando pela deformação semântica tão comum em atitudes revogadas. Quem hoje, saberá o que representa para uma mulher ser faceira? Hoje a moçada não está nem aí para ser faceira. Quer é ser gostosa, expressão algo grosseira nada obstante sua veracidade.

Não! Não! Não! Faceiro é muito mais do que isso. Amiga minha, bela mulher, "racé", classuda, com ar de princesa, mais para Grace Kelly outro dia reclamava a quem lhe elogiava a beleza de cisne: “— Estou cansada de ser princesa, elegante, classuda! Nunca ninguém me chamou de gostosa.” Pois tive vontade de lhe dizer que muitas vezes subjaz(1) na mulher faceira uma sensualidade refinada, intensa mas calada, discreta, sofisticada até, longe e superior à concepção atual da “gostosa” que nos é imposta pela propaganda de cerveja, essa insuportável e deletéria propaganda de cerveja. Pois fico com a mulher faceira. Faceira é a mulher que tem o gosto do garbo, da tafularia, da afetação, do dengo, como formas de expressar alegria, prazer de viver, vitalidade, delicadeza de sentimentos, uma certa ânsia de harmonia, de mansidão, de conviver gostoso.

Faceira vem de face, que deriva do latim “facies” ou “facia”, no latim popular. O sentido desta expressão é o de “forma exterior”, “aspecto geral de alguém”, “ar”. Pois faceira é a mulher que consegue fazer de seu “aspecto geral”, um ar de beleza, juventude, alegria, leveza. Em Portugal esse sentido ainda perdura e é falado.

Leveza é a virtude, minha doce leitora. A vida é tão carregada de densidades, dores e problemas, que passar por dentro deles e conseguir manter uma face jovem, taful(2) e um ar alegre, indica uma filosofia de vida, uma energia, uma saúde interior. A pessoa faz-se leve às demais. Desobriga os outros do peso de suportá-la, entendê-la, ouvir-lhe os sofrimentos.

Faceira, portanto, é graça, e muita, na mulher!

Um amigo português usa outra palavra correta, devido ao hábito do falar preciso de Portugal: garrida sim, a faceirice faz as mulheres garridas, elegantes, enfeitadas, brilhantes, casquilhas(3). Por falar nisso, ocorre-me uma outra característica a da mulher catita(4). Essa caiu em desuso. Mas os portugueses ainda têm outros recursos no idioma para elogiarem as mulheres: “airosa” !

Faceira, garrida, catita, airosa, seria a bela mulher carioca a recuperar nos seus modos feminis, alguns adjetivos que caíram em desuso. Seria a mulher a recuperar, com novas modas e contornos, os adjetivos que envelheceram. Soem as trombetas. Está cheio de faceiras, airosas e garridas pelas ruas e praias deste Rio de Janeiro. Deus as abençoe! Quanto à hoje badalada gostosa, cuidado: isso só sabe na hora do amor.

O resto é voyeurismo...

(Presente de Hilda Persiani de Oliveira)

quinta-feira, 27 de março de 2008

PRIMAVERA


Já vivi a primavera da vida,
Hoje só o outono me restou
da primavera a saudade,
do perfume que ficou.

A primavera é, sem dúvida,
A mais bela estação
O perfume que ela exala
deixa tonto o coração.


Na primavera tudo é certo,
Até mesmo os erros cometidos
Nada tem muita importância,
São simplesmente coisas da vida.


Hoje vivo o outono da vida,
E me contenta o coração
Ensinando aos jovens primaveril
A beleza da estação.


Sou um homem solitário,
Mas não vivo na solidão
Faço disso um modo de vida,
Que me acalma o coração.

autor. E. Barboza Neto

dedicado à (pme).

A VOZ DO SILÊNCIO



 Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.
Marta Medeiro

quarta-feira, 26 de março de 2008

ESPERA


Se tivesses mandado uma palavra "Espera"!
Sem mais nada, nem mesmo explicado até quando
Eu teria ficado até hoje esperando ...
--Era a eterna ilusão de que fosses sincera

Que importaria a vida, o sol a primavera
Se eras a vida, o sol, a flor desabrochando
Se tivesses mandando uma palavra "Espera"!
Eu teria ficado até hoje esperando ...

Não mandaste. Tu nada disseste, e eu segui
Sem saber que fazer da vida que era tua
Procurando com o mundo esquecer-me de ti

E o afinal, irônico e mordaz
Ontem, fez-me cruzar com teu olhar na rua
Ouvi dizer-te "Espera" e ser tarde demais!

**J.G. de Araújo Jorge**

quarta-feira, 19 de março de 2008

HOUVE UM TEMPO EM QUE SE NAMORAVA


Houve um tempo em que se namorava muito e se pensava que se sofria muito - por amor, claro.

As paixões se acendiam, embaladas pelas músicas do momento, que faziam parte integrante de nossas vidas.

Quando, numa reunião - havia muitas reuniões nessa época -, os olhares se cruzavam, enquanto se ouvia "se você quer ser minha namorada, ai que linda namorada você poderia ser", o coração se derretia e era hora de ir ao banheiro com uma amiga, só para contar.

Uma bebidinha daqui, muitos sorrisinhos dali, e, na décima vez que o disco tocava e chegava no trecho "mas se em vez de minha namorada você quer ser minha amada, minha amada, mais amada pra valer", e ele olhava de longe, desta vez sério, o coração só faltava sair pela boca.

Muitos anos e muitos amores depois, foi a vez de Roberto Carlos participar de todos os romances: "Você foi o maior dos meus casos, de todos os abraços, o que eu nunca esqueci" - ah, uma boa dor-de-cotovelo ouvindo Roberto.

Quem nunca passou por isso não sabe o que é viver...

Num início de caso - em altíssima voltagem! - entrava Chico com "quero ficar no teu corpo como tatuagem" - e quem não queria?

E, no fim do caso, dava para agüentar "as marcas de amor dos nossos lençóis"?

Se ouvia muita música e, à noite, se ia sempre ao mesmo bar, onde um pianista tocava o que se tinha ouvido a tarde inteira; como todos se conheciam e sabiam das vidas uns dos outros,o pianista - Vinhas, quase sempre - atacava a "nossa" música... aquela!

A noite prosseguia com os olhos grudados na porta, para ver se ele entrava. Se entrasse sozinho, era hora de ir ao toalete, não para retocar a maquiagem, mas para respirar fundo e jurar, mas jurar de pés juntos que não ia nem olhar para o lado dele. A madrugada se encarregava de mudar os planos.

Depois, veio "Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa". As músicas diziam tudo o que não se tinha coragem de dizer, e era como se falassem por nós.

Que mulher não cantou baixinho, depois que ele foi embora, "quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem", e não fantasiou que quando ele ouvisse "e tantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você" ia imediatamente pensar nela, quem sabe sofreria, quem sabe teria uma crise de ciúmes e pegaria o telefone de madrugada? Quem sabe... quem sabe?

E quando ela se "enrolou" toda com a chegada de um namorado que não esperava e ficou repetindo o disco, no trecho que dizia "se na bagunça do teu coração", para ver se ele entendia que o coração, às vezes, vira mesmo uma verdadeira bagunça, como o dela, naquele momento?

Ah, Chico, ah, Roberto; vocês algum dia souberam que tinham sido tão importantes na nossa vida?

Pois fiquem sabendo: foram.

Nesse tempo as moças não levavam os namorados para dormir em casa, ou porque tinham pais ou porque tinham filhos; para isso havia os motéis.

E do primeiro a gente nunca esquece... A cama redonda com cabeceira de curvin, a piscina - uma banheira de 2 X 2 -, o som embutido na cabeceira e, sobretudo, o clima, um clima de pecado que as moças da zona sul adoravam.

Quando Roberto cantava "Amanhã de manhã vou pedir um café pra nós dois, te fazer um carinho e depois te envolver nos meus braços" e ele deixava "o café esfriando na mesa, esquecemos de tudo" e vinha o "pensando bem, amanhã eu não vou trabalhar, e além do mais, temos tantas razões pra ficar", não era preciso dizer nada: era a hora do telefonema para a empregada às 6 da manhã para que ela desmanchasse a cama e dissesse que você saiu cedo para buscar uma amiga no aeroporto, lembra?

Grandes tempos.

Hoje a gente olha para trás e pensa: mas essas paixões existiram mesmo?

Sem Chico e sem Roberto teriam havido tantas, tão intensas e tão arrebatadoras?

Delas a gente até esqueceu, mas não do que se sentia ao ouvir "mas eu estou aqui vivendo este momento lindo".

E dá para viver momentos lindos hoje, ouvindo os Racionais MC?

Pensando bem, o grande combustível de nossos corações foram as canções de Chico e Roberto.

E, olhando para trás, é bem possível que a certeza de que "se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi" não existiria sem a música de Roberto.

Foi bom demais ter vivido esse tempo.
Danuza Leão

segunda-feira, 17 de março de 2008

O CALA A BOCA DO REI


Todo menino passou por isso ao menos uma vez: Ter de encarar um valentão na escola. Todo mundo já foi para o recreio passando por uma odisséia mental, e a nada metafórica górgona que o aguardava era um moleque mais velho e mais forte, espancador de menores e ladrão de merenda. Todos conhecem o tipo. E todos evitavam cruzar com ele, claro. Quanto maior a distância, menor o problema. Mas alguns usavam uma tática oposta; viviam puxando o saco do sádico mirim. Eram os baba-ovos de plantão, que compravam a simpatia dele com as adulações. Quando o valentão escolhia um deles pra extravasar sua violência natural, a saída do puxa-saco agredido era fingir que tudo não passava de uma brincadeirinha do amigão. Diminuía o tempo de surra e salvava as aparências. Assim o puxa-saco continuava amiguinho do covardão e tentava fazer com que os outros acreditassem que era apenas uma travessura. E afinal, quase nem tinha doído, gente.

Semana passada Lulla riu de Hugo Chávez quando foi chamado de sheick da Amazônia e de magnata do petróleo, entre outras graves ofensas. Tudo televisionado. O riso nervoso, forçado, demonstrava claramente que Lulla tinha medo. Lulla morre de medo de Chávez, o valentão boquirroto. Lulla fez o papel de amiguinho para apanhar menos.

Lulla foi ironizado, espezinhado, humilhado pelo psicopata Hugo Chávez , na Cúpula Ibero-Americana, ocorrida no Chile. Riu, nervoso, quase histérico, para disfarçar a humilhação mundial que passava. Não só ele, mas, aos olhos do mundo, todo o Brasil foi, de novo, agredido verbalmente pelo venezuelano. O mesmo que chamou nosso Congresso de papagaio dos americanos.

O rei da Espanha não comunga com esses pensamentos. Não agiu como Lulla, fingindo que era tudo brincadeirinha do amigão do peito. Não foi fraco, não foi pusilânime. Quando o psicopata falou mal da Espanha e do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, chamando-o de fascista, ouviu o merecido cala-boca; rei Juan Carlos, um homem educado, piloto aposentando da Força Aérea espanhola, fidalgo que bem representa seu país, deu seu recado ao ditador. E ao mundo: chega desse imbecil. Algo que não ouviu do presidente brasileiro; Lulla perdeu uma excelente chance de mostrar que não somos idiotas, ou ao menos, que não é covarde. Estamos mal. Lulla riu (riu!) ao ouvir as ofensas ironicamente dirigidas ao Brasil e à sua triste figura, meu nobre cavaleiro Dom Quixote; digo, Sancho Pança. Moinhos que o digam. Cervantes foi honrado pelo seu rei.

Fomos humilhados pelo nosso presidente, mais ainda que pelo falastrão venezuelano. É de chorar; justamente quem deveria, até pela força de seu cargo, defender o Brasil de Chávez, preferiu fingir que a pancada não doeu. Achou melhor assim. Lulla só mostra as garras com os menores, como o jornalista americano Larry Rother, que relatou as paixões etílicas do presidente e quase foi deportado pelo "crime". Com os mais parrudos, age diferente; Chegou até a ficar amicíssimo de Fernando Collor, José Sarney e Orestes Quércia, a quem antigamente chamava de ladrões.

Com Evo Morales não foi diferente. O boliviano espoliou e humilhou o Brasil invadindo militarmente a Petrobrás, com transmissão ao vivo pela TV mundial. Lulla fez que não era com ele. Como se a pedrada não tivesse atingido suas costas.

O rei espanhol provou que tudo tem limite. Fez com Chávez o que Churchill fez a Hitler em 1938: Avisou ao mundo o perigo que representa um tirano demente e armado até os dentes. Parece que Juan Carlos teve mais sucesso que o inglês em sua empreitada. O alerta foi ouvido.
A Europa cansou de Chávez. O rei disse o que muitos pensam, mas não falam. O venezuelano odeia a Espanha, um país que enriqueceu à custa de muito trabalho duro. Muito diferente da Venezuela, que empobrece a olhos vistos, não obstante as fortunas arrecadadas com a exportação de petróleo, cujos lucros vão diretamente para o ralo do populismo e da corrida armamentista.
Na escola em que o rei Juan Carlos ministra aulas, Lulla ainda está no primário. E Chávez o espera no recreio, para roubar nossa merenda.

:: Fernando Montes Lopes Advogado

TESTE DE SEDUÇÃO


Andava me achando feia e com saudades da mulher gostosa e safada que eu fui no passado. Fiquei pensando, será que eu ainda sei paquerar? E o pior, será que eles ainda me querem? Ah, o que não se faz pela vaidade....
Ando tão séria de uns tempos pra cá que quando um homem olha para mim,já fico pensando que pode ser um ladrão, um parente que não vejo há tempos ou alguém que vai me pedir alguma informação.
Que saco! O que aconteceu com aquela mulher sedutora, quente e convencida que eu era? E se eu estiver certa e realmente a fase gloriosa e libidinosa que eu passava se acabou?
Fiquei a matutar isso o dia inteiro, até que, resolvi sair de carro e paquerar. Não paquerar alguém da minha idade. Não. Eu iria assediar alguém mais novo enquanto dirigia, e ter a certeza do desfecho deste drama.
Sai dirigindo e olhando nos sinais de trânsito em que eu parava.
As expectativas eram poucas. Ou homens muito velhos, e neles a minha tese não se baseava, ou homens de 18, 19 anos. Da idade do meu filho não, que aí era pedir demais.
Até que eu comecei a colocar a música do carro bem alta e abri a janela. Agora sim, som alto, música tipo "I will survive" e lá ia eu!!
Pensei no quanto de idiota eu estava sendo e na cara de dois de paus que eu iria ficar, se nada acontecesse.
Então, um carrinho com um rapaz de uns 28 a 30 anos parou ao meu lado e enquanto eu me organizava no meu teste-sedução, nem notei que ele já estava olhando para mim. Que felicidade!!!
Que felicidade!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ensaiei meu sorriso à la Monroe e consegui deixar o carro bem próximo ao dele. E ele continuava a olhar! Nem acredite
i que aquele gato olhava para mim! Então ele falou..... (Ele falou, ai meu Deus!)
.
.
.
Tiaaaa......., a porta está aberta!


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(Presente de Maria Carolina)

sábado, 15 de março de 2008

VENHA LOGO


Eu tenho procurado por você faz tanto tempo... acho que tenho procurado por você por toda a minha vida.

Não sei que fim levou você, ou em que planeta se escondeu, porque eu sei que você existe e que está do mesmo jeito que eu, buscando por mim sem saber direito que existo e que estou aqui, esperando por você só que de repente fiquei cansada e desisti de aceitar da vida o que ela tinha pra me oferecer, e por causa disso os últimos anos foram muito difíceis, e agora parece que acordei de repente e quando olhei em volta percebi que o mundo havia se desabitado de verdade, e as pessoas estavam cada vez com mais e mais pressa de passar e não deixar marcas e não consegui mais contato com ninguém que se aventurasse a ir além de arranhar a superfície pra procurar através daquilo que parece e não é.

Já tenho sessenta e dois anos agora e ainda estou à sua procura, e se passar mais outro tanto sem você chegar juro que vou enlouquecer, e é por isso preciso que você venha logo, entende, pra gente tentar ser feliz enquanto é possível respirar, pra que a gente possa caminhar por aí dividindo alguns sonhos, e ainda que não tenha muitos eu prometo que ajudo a sonhar os seus porque nesse tempo de esperar por você nem tenho mais dado conta de ter meus próprios sonhos.

Eu sei como você é e que gosta de madrugada e de dia de sol, e também que não vai se importar se vez por outra eu falar baixinho pedindo que me dê a mão para eu poder dormir porque preciso me sentir amparada no meu sono, e que nem vai se incomodar de ser muito amado, nem se sentir desconfortável quando eu disser "eu te amo" mais do que é permitido no manual da boa moça, porque afinal não sou nem boa nem moça... sou uma mulher querendo muito dizer eu te amo pra você.

Quero mesmo é respirar e sentir o seu hálito quente em meu rosto, e seus dedos alisando de mansinho as rugas que se formarem em volta dos meus olhos quando eu sorrir dizendo bom dia porque sei que o dia que começar com sua cabeça no travesseiro ao lado com certeza só poderá ser bom, infinitamente melhor que os dias em que acordo e amontôo os travesseiros para que a cama não pareça assustadoramente vazia como tem parecido nestes últimos anos.

Ah, e quero rir... e rir de qualquer bobagem que seja, porque houve um tempo em que meu riso tinha um valor imensurável e fazia parte do meu charme, e eu sei que em algum lugar de mim ele ainda existe, à espera de espaço para fluir e se fazer presente... quero sair de dentro de mim sem medo de não ser aceita, nem compreendida, porque quando você conhecer a mim vai me amar do mesmo jeito que eu vou amar você. E então meu riso vai brotar de dentro de mim pra você.

Eu fico aqui pensando que você deve ter se cansado de me procurar e ficou assim que nem eu, perdido nesse marasmo, mas ainda tem jeito de você chegar porque afinal, ambos estão tanto tempo à procura um do outro mesmo, que nada melhor que nos encontremos de uma vez.

Então desce desse planeta quase extinto e vê se chega pro café da tarde, mas não espere que tenha bolo de fubá na mesa porque preciso confessar a você que não sei cozinhar, nem fiar, nem bordar, nem fazer essas coisas todas que ensinaram a você que as moças prendadas faziam.

Por outro lado, tenho cá meus encantos, faço um silêncio pra lá de especial, sei caminhar macio e parecer invisível quando necessário e também adoro jornal espalhado pela casa, ainda que dividido em seções possa parecer mais civilizado. E farelos: sou doida por farelos por todos os lados e não dou a mínima se tiver roupa atirada por aí, conquanto você aqueça meus pés nas noites frias de inverno.

Pensando bem, preciso também dizer a você que nestes anos em que está demorando pra chegar adquiri alguns hábitos não muito saudáveis, como por exemplo comer fora de hora e nunca à mesa, e de dormir tarde e acordar mais tarde ainda... mas tenho certeza que podemos ajustar nossos relógios e encostar nosso tempo de ser feliz e eu até prometo abrir mão dos farelos se você precisar dormir num lençol impecavelmente esticado; e embora odeie futebol prometo nunca perguntar que graça tem vinte e dois bonequinhos correndo atrás de uma bola porque nessa hora vou estar na cozinha vigiando o microondas estourar pipocas pra você.

Não sei porque você ainda não despencou dessa árvore onde pendurou sua desesperança, mas eu torço que você esteja escorregando dela e que caia direto nos meus braços abertos à sua espera porque aí nós vamos poder dançar descalços pela vida por um bom tempo ainda, pois o amor rejuvenesce e revigora a gente; e afinal, que importa se nossas idades somadas perfazem mais de um século se há toda uma eternidade à nossa espera?

Eu sei que você existe e que está apenas esperando que eu lance à sua praia a garrafa com o fatídico bilhete amarelado pelo tempo dizendo venha me buscar! mas acho que você também perdeu a esperança porque tenho mandado meu navio atracar seu porto todos os dias e você nunca está na beira da praia...

Tem outra coisa que preciso lhe contar: é que meus cabelos agora estão brancos, e eu os pinto pra disfarçar, mas daí fico pensando que não deve ter lá tanta importância porque com certeza se você tiver os seus ainda serão brancos também; e isto me faz lembrar que se por acaso você tomou cerveja demais ao longo da vida eu não vou me incomodar que isto tenha lhe dado barriga desde que você não se importe que eu não possa mais andar de mini-saia.

Ah, tem coisa à beça que quero lhe contar desse tempo de esperar por você, mas prefiro que seja baixinho no seu ouvido, porque alguns pecadinhos ditos em voz alta podem parecer maiores; por outro lado a gente pode fazer um pacto de silêncio e começar tudo outra vez, e criar um tempo novo onde sejamos apenas eu e você e mais nada.

Agora, eu acho que fotografias de netos vão acabar aparecendo de um jeito ou de outro, e nesse caso é bom que você saiba que embora avó, tenho muito da menina que você tem procurado pela vida afora. Ainda tem luzes nos meus olhos, minha boca continua macia, e eu sinto que quando você me tocar as sensações da adolescência e da primeira vez vão estar todas ali do jeito que você espera.

Olha eu aqui. Mesmo que eu não seja exatamente como você me criou em sua imaginação, quero que compreenda que passaram anos desde que você começou a me procurar. Por isso, procure enxergar além de mim mesma, através da roupa que me veste, do corpo que me cobre a alma, e descubra a mim, aquela que sou na minha essência e que tem estado todo esse tempo à sua espera.

Ah, esqueci de lhe dizer uma última coisa: pode chegar a qualquer hora, viu, porque qualquer hora é hora de chegar e você vai ser muito bem-vindo quando finalmente abrir a porta e habitar meu mundo e nossas solidões puderem se alisar até se diluírem no calor do nosso abraço e depois disto nunca mais seremos sós. E ficaremos finalmente em paz.

**Maria Tereza Albani**

quinta-feira, 13 de março de 2008

NÃO HÁ POR DO SOL


Não há o por-do-sol Não há mais o amanhecer. Onde então podes estar? Sem o encanto de te amar Não há luz em meu olhar... Não há o mais o amanhecer... Não há mais o por-do-sol... Onde, então, podes estar? Sem o encanto de te amar Não há luz em meu olhar Não há o por-do-sol sem você Não há mais o entardecer... Não venham as estrelas a saber Se você não está aqui, Quando, então, eu volto a te ter? Não há mais o entardecer Não há o mais o amanhecer... Não venham as estrelas a saber Se você não está aqui Onde eu vinha só pra te ter... Não há, Não há, Não há, Não há, Não há, Não há, Não há, Não há, Não há, Não há.. Por mais que eu te busque eu não te encontro... Não há a luz do sol sem você, Não há mais o amanhecer... Não venham as estrelas a saber Se você não está aqui Onde eu vinha só por você Não há mais o por-do-sol Não há o mais o amanhecer Não há luz em meu olhar... Daniel Amaral

quarta-feira, 12 de março de 2008

ONDE FOR, VÁ PRA SER ESTRELA !


© Rosana Braga

Numa dessas segundas-feiras em que a gente tem a impressão de que deveria ter ficado em casa, eu estava realmente irritada. Alguns obstáculos no trabalho, pouco tempo para muita tarefa e eu atrasada para um compromisso...

Saí dirigindo rumo ao meu destino; tensa, ligada no piloto automático. Parei no semáforo do cruzamento entre a França Pinto e a Domingos de Moraes, zona Sul de São Paulo. De repente, ouço uma voz do lado de fora dizendo:

- Posso cantar uma música para você?

Olhei assustada, pensando “Lá vem pedido de dinheiro, de novo!”. Fiquei constrangida em negar um pedido tão diferente e disse que sim, afinal ele tinha até o violão! Antes, ele avisou: é do Alceu Valença. E começou a tocar aquela, justamente aquela que eu adoro – La Belle du Jour.

O sujeito de pele morena, vestido de maneira extremamente simples, cantava só pra mim em plena tarde, na louca cidade. A cena era, no mínimo, mágica. Desliguei o rádio do carro; o celular tocou e eu não atendi. A voz dele ia apaziguando meu coração agitado.

Lembrei-me de que teria de dar o tal “trocado”, mas raramente ando com dinheiro. Encontrei na bolsa R$0,75 (isso mesmo: setenta e cinco centavos!). Quando ele terminou, eu estava um tanto atordoada com o encantamento provocado por aquela surpresa. O que um artista como ele estaria fazendo num semáforo, cantando em troca de gorjeta?!?

Sorri, agradecida por tão singelo presente e, ao mesmo tempo, chateada por ter tão pouco para “pagá-lo”. E ele ainda me disse, ao pegar as duas moedas:

- Muito obrigado por me ouvir. Você é muito simpática!

O semáforo abriu e fui embora, mas não consegui parar de pensar no que havia acontecido. Já não estava tensa. Todo o cenário do meu dia havia se transformado por causa daquele homem e seu dom. Eu me sentia a própria Belle du Jour.

Fiz aquele mesmo caminho durante vários dias depois, em horários diversos... mas nunca mais vi aquela ‘estrela’ com violão nas mãos e magias escondidas na boca para dar de presente a quem ele escolhesse.

Hoje, fico me perguntando se fora realmente um homem ou um anjo. Talvez fosse mais racional pensar que ele simplesmente migrou para outro semáforo qualquer, mas prefiro acreditar que tenha sido um anjo. Afinal, a vida é exatamente aquilo que acreditamos que ela seja.

Bem melhor, portanto, pensar em encantamentos, presentes, surpresas, anjos e fadas, como se a nossa história fosse enredo de um lindo filme campeão de bilheterias. Gosto de pensar que o Grande Diretor me convidou para ser a protagonista do filme que vivencio todos os dias, pois assim fica muito mais romântico, interessante, empolgante e inspirador.

E é por isso que, a despeito de qualquer tristeza, de todas as dores e os eventuais problemas, continuo acreditando no amor. E desejo que você também acredite, porque basta que desejemos o amor... e haverá amor!

(Presente de Cleo Dal Pra)

O DRAMA DE TODAS AS MULHERES


Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: "olha, não dá mais".
Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo?

Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: "mas agora eu to comendo um lanche com amigos".

Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita,mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?

Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta.

E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito.

Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve.

Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros,terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu.

Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.
Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida.

Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris.

Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto.

O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu.

Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher demais para ele.

Ele quem mesmo?

**Martha Medeiros

(Presente de Clao Dal Pra)


terça-feira, 11 de março de 2008

A MASSACRANTE FELICIDADE DOS OUTROS


Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: 'Eu espero/ acontecimentos/só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento'.

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.

As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

Ao amadurecer, descobrimos que estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados pra consumo externo.
'Todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, social e filosoficamente corretos. Parece que ninguém, nenhum deles, nunca levou porrada. Parece que todos têm sido campeões em tudo'.

Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem.

Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?
Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Será bom só sair de casa com alguém todo tempo na sua cola a título de segurança?
Estarão mesmo todas essas pessoas realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está em casa, lendo, desenhando, ouvindo música, vendo seu time jogar, escrevendo, tomando seu uisquinho?

Tenha certeza que as melhores festas acontecem sempre dentro do nosso próprio apartamento.

© Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos, Jornalista e Poeta

DIVAGANDO


Eu não estava nos planos dela, Ela também não estava nos meus, mas enfim... aconteceu!"
Uma história intrigante, provavelmente muitos já viveram esse instante... mas eu vou tentar contar...

Foi via internet... que cofre de surpresas, que local estranho que nos faz colocar todos os segredos sobre a mesa...
E a gente pensa, acha, tem certeza, que foi aquela pessoa em especial que conseguiu a chave dos nossos mistérios, que atravessou sem esforços nosso rio de dúvidas, que invadiu nosso calabouço de conflitos e os desfez de uma só vez.

Tantos enganos... somos todos iguais, não existe essa quantidade de pessoas especiais. Mas toda hora, todo dia, alguém em frente a um computador encontra o seu grande amor. E então me pergunto, por que na vida real isso não acontece igual?
Mas pensando bem, descobri que por detrás de tudo isso existe uma simples explicação: No dia a dia, as pessoas não se confiam, não se procuram, não se aceitam e não suportam os defeitos. Via internet tudo ficou mais fácil, eu lhe conto meus problemas e você quer ouví-los; Eu lhe peço soluções e você se apressa em dá-las;

Se eu preciso de um carinho, você jamais me abandona sozinho;
Se suplico por um afago, você inevitavelmente se coloca do meu lado;
Se eu estou em desatino, você nunca me atropela, sempre tenta me acalmar e se põe eternamente a me esperar.
No virtual tudo é tão fácil, rápido e sem problemas, aqui não existem fronteiras, nada que se diga é visto como besteira.

Mulheres não tem dores de cabeça;

Homens não chegam do trabalho cansados;

Mulheres sempre são parceiras;

Homens estão sempre animados;

Defeitos não se encontram em nenhum dos dois;

Todos somos feitos de sonhos, é, sonhos, aquela coisinha insignificante que atualmente anda tão distante , que se julgava não existir mais no ser humano.
Engano! Nós, embora muitas vezes negando, ainda vivemos por aí divagando.
A idade não importa, adolescentes se fazem adultos, idosos se transformam em crianças, jovens fazem brotar aquele sentimento do qual são os maiores donos, o amor.
A sedução que até então estava tão dilacerada na vida real, aqui no virtual tomou um novo rumo.

Voltou-se finalmente a seduzir com palavras, com doces "cantadas", fomos enfim obrigados a criar frases bem elaboradas e saber colocá-las na hora certa, no momento exato, caso contrário tudo acaba em fracasso.
No virtual, a arma de todos é igual. Não importa se você é bonita ou se é esquisita, não faz mal se ele é genioso e teimoso.
Atrás de um computador, some qualquer dor, os problemas insolúveis da vida real nem precisam ser contados, podem ser escondidos e descartados.
Ela nem precisa saber que você é casado, assim como você também não irá descobrir que ela já passou dos quarenta e no entanto inventa que acabou de fazer vinte e seis, o que é perfeito pra vocês.
Aí acontece de alguém querer uma foto do outro, escolhe-se os melhores ângulos para tirá-la ou pode até ser uma foto do passado, daquelas que estão no armário trancado.
Mas será que ao fim de tudo somos mesmo aquilo que passamos? Ou será que só lidamos com um amontoado de sonhos?

Será que temos aquele rosto? Ainda é aquele mesmo cabelo? O corpo ainda tem o mesmo relevo e o mesmo cheiro?
Será que aquela simpatia toda é verdadeira ou obra do virtual? Será que o mundo que expusemos é real?
Criam-se personagens a todo instante... gente séria, gente alegre, gente competente, inteligente, gente amiga e influente. Gente dominadora, gente meiga, e gente traiçoeira.

Mas com tudo isso o amor vai acontecendo desnorteado dentro dos corações, se iludindo com meras palavras, atravessando difíceis estradas.
E então chegam os entendidos em internet, aqueles que jamais colocaram seus dedinhos a teclar e começam a nos julgar: Internet? Só tem gente carente, gente inconseqüente...
Humm, e quem disse que os carentes só vivem por aqui? Eles estão em toda parte, foi uma raça que se alastrou, dominou o mundo.

Somos todos, unidos ou perdidos, muitos ou poucos, invisíveis ou aparentes... mas carentes.... Carentes de amor, de amizades, de mão amiga, de olhar afetuoso, de um sorriso gostoso, de um bom dia com alegria.
No virtual ou no real, tudo se faz igual, a única diferença é que aqui... temos tempo... tempo pra descobrir as pessoas, tempo pra enganá-las, tempo pra seduzi-las e depois deixá-las, tempo até pra perdoá-las.
Aqui temos tempo pra sofrer, chorar e nos arrepender, enquanto que no real a nossa rotina é sempre igual, dominou nosso coração e nos jogou na solidão, nos impedindo de ter tempo para um bom tempo, nos jogando de frente com os problemas e não dando tempo pra ninguém nos ouvir.

No real não temos nem mais tempo pra nos iludir... e a ilusão embora nos traga muita decepção é necessária, é pertinente e acaba por ser solidária à nossa solidão e à nossa emoção.
Então... vamos sonhar... se ele ou ela não aparecer, também não vamos sofrer, apenas continuemos a viver, unidos ou separados, no virtual ou no real, mergulhados nas emoções, envoltos nas ilusões... e que a internet consiga trazer soluções, e quem sabe resolver as minhas, as suas, as nossas ... questões!!!

Ih, me desculpem, me perdi no devaneio e sai do meu roteiro. Afinal vim aqui pra contar de um certo amor não foi? Um amor que começou via internet....
Bem, fica pra uma outra vez, só posso adiantar mesmo o que disse no início, que ambos não estavam um nos planos do outro... e ainda assim foi incrível, indescritível... mas acabaram por se afastar, uma pena... um desperdício... de corações... de sensações... de amores ... e de ilusões....

(mas olha, ele ainda sonha com ela, e ela ainda pensa nele)

by: Silvana Duboc

TAKE MY HEART BACK(Ter meu coração de voltaTudo ficará bem Você disse Amanhã Não chore Não derrame uma lágrima Quando acordar Ainda estarei aqu)


Tudo ficará bem
Você disse
Amanhã
Não chore
Não derrame uma lágrima
Quando acordar
Ainda estarei aqui
Quando acordar
Combateremos seus medos
E agora irei...

Pegar meu coração de volta
Deixar suas fotos no chão
Roubar de novo minhas memórias
Não posso suportar
Sequei minhas lágrimas
E agora encaro os anos
Do jeito que você me amou
Dissipou todas as lágrimas

Apenas um pouco mais de tempo foi o que precisamos
Apenas um pouco de tempo para que eu visse
A luz que a vida pode dar
Como voce pode ser livre
Então agora irei

Pegar de volta meu coração
Deixo suas fotos no chão
Roubo o passado da lembrança
Não posso suportar
Sequei minhas lágrimas
E agora encaro os anos
Do jeito que você me amou
Dissipou todas as lágrimas

La la la la la
La la la la la
La la la la la la la la la

Oooohooo oooooooh

segunda-feira, 10 de março de 2008

PEIXES (19/02/20/03)



1. Frase: 'Ontem tinha DÚVIDAS, hoje... NÃO SEI!'
2. O que o pisciano espera de seu parceiro:
Busca um protetor amoroso, uma alma irmã, uma pessoa espiritualizada, que saiba aceitar seu humor sempre mutável e sua necessidade de solidão e de privacidade. Ah! E que goste de bichos!
3. O que o pisciano diz depois do sexo: ‘Como é mesmo o seu nome?'
4. Como irritar um pisciano:
Diga para agarrarem-se a si mesmos e esquecerem dos outros. Marque encontro com eles em locais brilhantes, barulhentos, superpovoados, como o metrô da Sé. Deixe-os falando sem parar e no fim diga que não entendeu nada.


5. Como o pisciano reza antes de dormir:
'Pai Celestial, enquanto eu me preparo para consumir este último quinto de scotch para esquecer minha dor e meu sofrimento, possa minha embriaguez servir para aumentar sua Honra e sua Glória.'
6. Por que o pisciano atravessou a rua?
Que rua? Ih, é...
7. Você foi assaltado e o pisciano ...
'Toma esse amuleto, guarda com você... protege contra assaltos...'
8. Adesivo para o vidro do carro do pisciano:
'Não me siga. Também não me lembro pra onde eu estava indo.'
9. Quantos piscianos são necessários para trocar uma lâmpada?
O quê? A luz está apagada?

domingo, 9 de março de 2008

CAIXA DE ILUSÕES



Melliss
Da varanda, vejo o sol caindo no poente, mergulhando no oceano de nuvens avermelhadas que colorem o final dessa tarde ...
Observo as sombras aninharem-se no galho das árvores,
percebo a noite que chega mansamente nas fachadas, nas janelas, nas vidraças ...
Crianças voltam da escola em bandos barulhentos, cheios de graça pueril, pessoas voltam apressadas para casa, pois as horas parecem cobrar o regresso,oferecendo o aconchego da volta, o reencontro, o abraço, a paz de quem retorna à sua pátria ...
Olho ao meu redor, e não encontro nada, senão silêncio e vazio, ecos, lembranças, memórias remendadas de sorrisos ...
Vasculho em meu peito as secretas gavetas de lembranças, e delas retiro uma caixa de ilusões inesquecíveis, bordada com fios de saudade e lágrimas pequeninas ...
Ali encontro nossa primeira estrela, nosso primeiro beijo, a luz do teu olhar castanho, teu sorriso de pérolas perfeitas, teu perfume verde e inebriante, nossas promessas de amor que jamais aconteceram ...
Uma fita sedosa de luar dança no céu, anunciando a procissão de brilhos que pertencem a outros corações nesse momento ...
Fecho minha caixa de ilusões e acendo as luzes da varanda.
A realidade diz que o teu amor passou por mim esteve em mim mas não ficou aqui.

MULHER MODERNA


São 7h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.
Estou TÃO acabada, não queria ter que trabalhar hoje.
Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até.
Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.
Aquário?
Olhando os peixinhos nadarem.
Espaço?
Fazendo alongamento.
Leite condensado?
Brigadeiro.
Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar.
Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher e por quê ela fez isso conosco, que nascemos depois dela.
Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.
Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço".
Que espaço, minha filha?
Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo ao seus pés.
Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer?
Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz.
Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim.
E nos lançando no calabouço da solteirice aguda.
Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard e, se duvidar, nem vôlei.
Por quê, me digam por quê um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo?
Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso.
Tava na cara que isso não ia dar certo.
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com o meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas.
Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especializações.
Viramos super mulheres, continuamos a ganhar menos do que eles.
Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?
Chega, eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela - ai, meu Deus, 7h30, tenho que levantar!, e tem mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e diga "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?", descobri que nasci pra servir.
Cês pensam que eu tô ironizando?
Tô falando sério!
Estou abdicando do meu posto de mulher moderna...
Troco pelo de Amélia.
Alguém se habilita?

Escrito em 19/06/2003 por Ana Kessler

sexta-feira, 7 de março de 2008

CANÇÃO DOS HOMENS


Que quando chego do trabalho
ela largue por um instante o que estiver fazendo
- filho, panela ou computador -
e venha me dar um beijo como os de antigamente.

Que quando nos sentarmos à mesa para jantar
ela não desfie a ladainha dos seus dissabores domésticos.
E se for uma profissional,
que divida comigo o tempo de comentarmos nosso dia.

Que se estou cansado demais para fazer amor,
ela não ironize nem diga que " até que durou muito"
o meu desejo ou potência.

Que quando quero fazer amor
ela não se recuse demasiadas vezes,
nem fique impaciente ou rígida,
mas cálida como foi anos atrás.

Que não tire nosso bebê dos meus braços
dizendo que homem não tem jeito pra isso,
ou que não sei segurar a cabecinha dele,
mas me ensine docemente se eu não souber.

Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças,
mas sirva de ponte entre nós
quando me distancio ou me distraio demais.

Que ela não me humilhe
porque estou ficando calvo ou barrigudo,
nem comente nossas intimidades com as amigas,
como tantas mulheres fazem.

Que quando conto uma piada para ela
ou na frente de outros,
ela não faça um gesto de enfado dizendo
" Essa você já me contou umas mil vezes".

Que ela consiga perceber
quando estou preocupado com trabalho,
e seja calmamente carinhosa,
sem me pressionar para relatar tudo,
nem suspeitar de que já não gosto dela.

Que quando preciso ficar um pouco quieto
ela não insista o tempo todo
para para que eu fale ou a escute,
como se silêncio fosse falta de amor.

Que quando estou com pouco dinheiro
ela não me acuse de ter desperdiçado
com bobagens em lugar de prover minha família.

Que quando eu saio para o trabalho de manhã
ela se despeça com alegria,
sabendo que mesmo de longe
eu continuo pensando nela.

Que quando estou trabalhando
ela não telefone a toda hora
para cobrar alguma coisa que esqueci
de fazer ou não tive tempo.

Que não se insinue com minha secretária ou colega
para descobrir se tenho amante.

Que com ela eu também
possa ter momentos de fraqueza e de ternura,
me desarmar, me desnudar de alma,
sem medo de ser criticado ou censurado:
que ela seja minha parceira,
não minha dependente nem meu juiz.

Que cuide um pouco de mim como minha mulher,
mas não como se eu fosse uma criança tola
e ela a mãe, a mãe onipotente,
que não me transforme em filho.

Que mesmo com o tempo, os trabalhos,
os sofrimentos e o peso do cotidiano,
ela não perca o jeito terno e divertido
que tanto me encantou quando a vi pela primeira vez.

Que eu não sinta que me tornei
desinteressante ou banal para ela,
como se só os filhos e as vizinhas
merecessem sua atenção e alegria.

E que se erro,
falho,
esqueço,
me distancio,
me fecho demais,
ou a machuco consciente ou inconscientemente,

Ela saiba me chamar de volta
com aquela ternura que só nela eu descobri,
e desejei que não se perdesse nunca,
mas me contagiasse e me tornasse mais feliz,
menos solitário, e muito mais humano.

© Lya Luft

(Presente de Sylvia Cohin - Porto)

CANÇÃO DAS MULHERES


Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

© Lya Luft

(Presente de Rita Maria - Uberlândia)

O NOSSO PRIMEIRO ENCONTRO


Foi assim que a conheci...

Não sou muito de freqüentar bares. Mas fui levado por uma força estranha a um deles. E vi um grupo de jovens que estava conversando sobre o que é o amor. Ouvi sem querer enquanto esperava que uma mesa fosse desocupada, e as suas palavras ficaram latejando em minha alma. Discordava dos conceitos deles, já que não podiam ver (baseado no que ouvi), que o amor é muito mais que o atrito entre duas carnes.

Afastei-me quando o garçom avisou-me que havia uma mesa desocupada. E enquanto me afastava, percebi que era observado por uma jovem que só alguns dias depois soube quem era. Quando cheguei à minha mesa, comecei a escrever em guardanapos de papel como se fosse um poeta, o que eu acreditava ser o amor. E no momento em que escrevia, sentia um estranho e gostoso sentimento invadindo meu coração como se eu estivesse sendo inspirado por uma profecia.

Escrevi então:
O amor verdadeiro é a harmonia sem explicações entre duas almas nas quais repousam a eterna inquietude da esperança...

É como uma alegre manhã de sol depois de uma noite chuvosa e fria...
Quando o amor toca um coração com seus dedos mágicos, ele só sente o amor... Quando fala com sua voz eterna, o mesmo coração só ouvirá esse som... Quando o amor chama, o coração que ama só atenderá esse convite, e ficará para sempre ao seu lado, e ouvirá todos os dias o repetido pulsar de sua alma, como se fossem batidas compassadas de coração.

Ele aparece em um instante como o lampejo de um relâmpago. O que se pode descrever depois é do que já aconteceu, como se fosse o trovão, que não pode antecipar, mas só anunciar o verdadeiro acontecimento... Porque nada antecipa o amor, e é por isso que é eterno, posto que também jamais acaba. Porque haverá sempre uma semente, um sinal, uma pedra ou um registro nas marcas do tempo, que comprovará que ele perpetua em sua sina eterna de ser, ainda que sem querer fazer-se perceber.

Surgiu naquele lampejo, e não importa quanto durou o clarão, porque esse foi o momento mágico da luz que não se apagará jamais, então perpetuada na lembrança de quem vive, e só por isso mesmo vive... O que se segue são trovões, pois ainda que ensurdecedores, não passam de barulho. Porque o que há de verdade é a força, a eletricidade, e o fogo desse raio incandescente, que num instante pode, e deve, e faz, com que a alma arda em chamas, e essa chama eterna clareie e aqueça tudo o que era escuro e frio...

Depois desse instante mágico, tudo se fez, e a magia estabeleceu leis que não são escritas como as que ordenam que a lua gire em torno da terra, e a terra em redor do sol, e o sol e todos os seus irmãos ao redor de Deus, e uma alma ao redor da outra a girar a sorrir, e a girar eternamente de mãos dadas a cantar e cantar, e sorrir a cantar...

E são essas mesmas leis não escritas, que estabelecem que se faça, e se faz; que se perpetue, e será eterno; e que se ame, e ama... E é a mesma força que faz com que tudo gire como o enorme relógio do tempo que arrasta tudo o que tenta impedir que tudo isso aconteça.

Porque não há maior força, pelo menos conhecida mesmo pelos que já navegaram o mais profundo do abismo, ou os que visitaram a amplitude das alturas do terceiro céu...

E o fruto do amor é muito mais que o gestado entre os instantes do riso de prazer de um pai e o grito de dor de u'a mãe... O amor está muito acima de qualquer cheiro ou som feito pelo atrito de carnes...

Passei muito tempo escrevendo e reescrevendo e antes de sair, lembro-me que tomei o cuidado de embolar o papel e jogar em um cesto de lixo. Ele ficou entre a parede e a borda do latão, mas eu não fui corrigir esse erro. A moça que parecia conhecer-me estava bem perto de mim quando o fiz, e a cumprimentei com um leve aceno de cabeça.
Dias depois, foi que soube quem era ela. Recebi uma cópia do que eu havia escrito e jogado no lixo do bar (comprovando a minha falta de habilidade para o basquete). Ela disse depois que me seguira desde o momento que me viu pela primeira vez. Só teve certeza de que eu era quem ela procurava, depois que leu o que escrevi...
Eu tive essa mesma certeza, na segunda vez que a vi, quando sutilmente pegou o que eu havia escrito.
E as nossas vidas desse dia em diante, tem sido um reflexo que comprova a cada dia aquilo que escrevi...

**
© Adelmario Sampaio

quinta-feira, 6 de março de 2008

ANTES DE TE PERDER


® Silvana Duboc

Antes de te perder,
dá-me um tempo para te esquecer
um tempo para que eu apague da minha memória
toda a nossa história.

Que eu possa largar no passado
nossos beijos e abraços
nosso enorme cansaço
de tanto ter lutado
por um amor que jamais foi consumado.

Dá-me um tempo para alcançar a resignação
de ter te amado com tanta dedicação
e nunca ter podido viver inteiramente essa emoção.

Antes de te perder, espere eu retornar
desse caminho que não me levou a nenhum lugar.

Permita-me esquecer
tudo de bom que junto a ti pude viver
e me ajude a eliminar
todas as dores que ainda insistem em latejar.

Antes de te perder,
dá-me um tempo correto
sem medidas, sem tamanho
basta que ele seja o certo
para apagar o meu sonho.

Dá-me um tempo sem cobranças
assim como me deste tanto tempo
na hora de me vender esperanças.

Antes de te perder, deixa eu me acostumar
com a idéia de que o meu amor pode acabar
sem deixar traumas nem amarguras.

Mas antes de te perder,
preciso te falar da ternura
que sempre senti por ti
e do quanto será difícil te ver partir
carregando tudo que na tua garganta ficou calado
quando eu implorava ao teu lado
que me falasse do teu amor
e com tua imensa sabedoria
tu me poupavas da dor
de saber que por ti eu era amada
tendo que aceitar que isso não daria em nada.

Me perdoa antes de te perder
por jamais tua ter sido
e nunca ter podido te ter.

Autoria - Silvana Duboc
18/03/2004

Visite o site da autora

(Presente de Gena Maria - Marília - SP)

SILÊNCIO


Silêncio, por Aldo Novak

Enviada por Henrique Euprasio de Santana Junior, de Natal/RN


Pense em alguém que seja poderoso...

Essa pessoa briga e grita como uma galinha, ou olha e silencia, como um lobo?

Lobos não gritam.

Eles têm a aura de força e poder.

Observam em silêncio.

Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.

Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.

Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos.

Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis.

Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.

Olhe.

Sorria.

Silencie.

Vá em frente.

Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar.

Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.

Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.

Não é verdade! Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir.

Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal.

Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.

Você pode escolher o silêncio.

Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenocrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar:

"ME ARREPENDO DE COISAS QUE DISSE, MAS JAMAIS DO MEU SILÊNCIO."

Responda com o silêncio, quando for necessário.

Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais.

Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos.

Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas.

E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.

quarta-feira, 5 de março de 2008

BORDANDO PALAVRAS



© Silvana Duboc

Aqui, agora, sem dor, posso falar daquele amor,
das noites mal dormidas, das tantas feridas
que ele abriu em meu coração ...


Posso falar daquela paixão que rondou a minha alma
enquanto a calma de mim se distanciou ...

Hoje, refeita da agonia, eu posso descrever
tudo que eu sentia, aquele turbilhão
de todo tipo de emoção ...

Não ...
não que eu tenha me curado, apenas coloquei de lado
aquelas ilusões e entendi que as grandes paixões
sempre terminam em nada e somos obrigados
a trilhar outras estradas ...

Então eu fui ... tenho seguido por aí,
mas na verdade nunca te esqueci,
e trago aqui dentro as cicatrizes
daqueles momentos que vivi ...

Estranhamente gosto de acariciá-las
através destas palavras que insisto em bordar ...

Estranhamente tento retornar
àquele tempo que não vai voltar, onde todas sangravam
e meus olhos encharcados pelos teus procuravam ...

Te amei ... só eu sei o quanto amei e a ti nunca contei ...
mas só eu sei como te amei ... e te amei tanto
que perdi a lucidez e da vida não pude mais ver o encanto,
cega que fiquei pelo meu pranto quando de mim tu partiste ...

Te amei ... até que meu coração ruiu,
te amei até a última gota que esvaiu, como roupa que se torce
e nada mais tem pra pingar ... te amei até não agüentar!
e hoje tenho a certeza de que te amei
muito mais do que a mim mesma ...

Te amei ... com toda beleza, amei mais do que eu podia,
muito mais do que eu devia, bem além do que eu queria ...

... e agora só me restou, depois de todo esse amor
um mero retalho bordado com as marcas do passado.


© Silvana Duboc
9 de maio de 2003
- Direitos Autorais Reservados -
* Editado neste site com autorização da autora


EU GOSTO


Eu gosto quando você chega cheio de amor pra me dar
Gosto quando você vai, cheio de saudades.
Gosto quando você me acarinha sem nenhuma intenção
E gosto quando você me seduz com todas as intenções
Eu gosto do seu jeito de gostar de mim
Gosto das suas mentiras e amo as suas verdades
Gosto dos seus caminhos e das suas estradas
Gosto do seu passado e do seu presente também
Gosto quando você não me diz não e adoro quando você me diz sim
Gosto da sua procura, porque foi através dela que você me encontrou
Gosto da sua insistência e também da sua paciência
Gosto da sua raiva e da sua doçura,
da sua solidão e da sua amargura,
da sua alegria que sempre me contagia
Gosto do seu humor, do seu amor e da sua tristeza
Gosto dos nossos encontros e dos desencontros,
das brigas e das despedidas
Gosto das nossas esperas e das nossas partidas
Gosto do nosso começo e do nosso fim
Eu gosto do seu ciúme infantil e do seu amor maduro
Gosto desse nosso paraíso e desse nosso inferno também
Gosto das suas lembranças e dos seus esquecimentos
Eu gosto quando você me trai com medo de me perder
Eu gosto quando você vai embora, porque sei que vai voltar ..
e gosto quando você volta, porque sei que vai ficar!
**Silvana Duboc**
http://www.prosaeverso.com/silvanaduboc.htm