segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

METADE


Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que tristeza...
Que a mulher que eu amo
seja pra sempre amada
mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece,
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão
que me corroe por dentro
seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso,
que me lembro ter dado
na infância
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade
eu não sei...

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais...
Porque metade de mim
é abrigo,
mas a outra metade
é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também...

(Oswaldo Montenegro)

(Presente de MariAlice)

Nenhum comentário: