quarta-feira, 29 de setembro de 2010

RESTOS DE NÓS [carta]


RESTOS DE NÓS (Carta)

Hoje abri aquela caixinha onde guardo nossos segredos, fazia tempo que não a visitava por puro medo. Encontrei lá dentro, restos de nós dois. Reli suas cartas, aquelas que falavam do seu amor, onde você descrevia a Sua paixão por mim e incendiei por dentro por um momento.

Depois encontrei aquele guardanapo que num bar certa vez você desenhou um coração e escreveu o nosso nome em letras enormes... E então,o coração que bate dentro do meu peito, bateu insatisfeito.

Remexi ainda mais na caixinha e achei uma flor, aquela rosa que você Me deu no dia que me disse pela primeira vez "eu te amo" e descobri que ela secou, por pura falta de amor.

Depois bem lá no fundo encontrei perdido aquele coração partido que andava pendurado no meu pescoço, pensei então na outra metade, onde andaria? será que ela ainda existia?

Achei também um bilhetinho amassadinho que dizia que a vida era ruim sem mim, que nada valia a pena no dia que você não me via, aí lembrei do seu sorriso quando você me encontrava, eu o amava!

Revirei-a mais um pouco e cheia de desgosto achei então aquela oração que você fez pra mim naquele nosso momento ruim e chorei baixinho de tanta dor. Também achei um bilhetinho pedindo perdão por um momento de tensão e lembrei que lhe dei esse perdão com a maior emoção.

Em seguida achei um papel dobradinho com aquela poesia que você fez pra mim no dia seguinte que nos amamos pela primeira vez, aí delirei de prazer por você. Também estava lá a letra daquela música que quando ouvimos um certo dia você me disse então que seria a nossa canção e eu a cantarolei baixinho por um breve minutinho.

...e aí depois de já estar com o rosto inchado de tanto chorar, com o coração estraçalhado, achei aquele e-mail que você me mandou falando do fim do nosso amor, que tinha acabado, que estava tudo terminado. Poucas linhas, rápidas palavras, como se a nossa história tivesse sido transitória.

Ardi de dor, me enterrei na saudade, depois tranquei a caixinha e parti pra minha realidade fingindo à todos não viver na agonia, mas na verdade o que eu queria era morar dentro daquela caixinha, junto com o meu coração que já vive lá, afinal desde que você me deixou foi o único lugar que ele encontrou pra continuar a pulsar.

(Silvana Duboc)

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