sábado, 14 de junho de 2008

POEMA PARA A MULHER QUE PASSOU

Quando ela passou por mim, indiferente e distraída,
surpreendi-me a pensar, sem querer,
de repente em minha vida...

Fiquei a imaginar que se lhe acompanhasse os passos,
num lindo dia como o de hoje,
cheio de sugestões para os nossos desejos,
- talvez ela acabasse por me olhar, sorrindo,
e mais tarde talvez me desse as suas mãos,
e algum dia ficasse abrigada em meus braços
e quisesse os meus beijos...

Se eu a seguisse, ela que nunca me viu,
e passou distraída como se eu nem a visse,
se eu a seguisse pela rua em meio a tanta gente,
- talvez se transformasse toda a minha vida,
e ao encontro da sua,
minha estrada tomasse um rumo diferente...

No entanto ela se foi...
E enquanto eu me deixava a pensar,
quem sabe se não levou a metade dessa alma
que seria talvez a única metade
capaz de me completar?

Naquele segundo, - pressentimento estranho,
intuição fugaz, - quis correr, ir buscá-la...

Corri! ...
Fui procurá-la e era tarde demais...

Acaso já pensaste, na grandeza trágica
desse segundo irremediavelmente perdido?

Quem há de nos dizer se ele encerrava um mundo,
esse mundo por nós sonhado há tanto tempo
e há tanto tempo esperado e querido?

Quem há de nos dizer algum dia,
se ele era a única oportunidade,
que o Destino avarento e impiedoso
nos dera para a felicidade?

Ninguém! ... E ele passou!...
Pensa um momento na grandeza desse segundo atroz,
e terás a intuição dolorosa, a certeza
de que é precisamente num segundo desses
que a felicidade passa por nós!
Queres correr, é em vão!

Hoje estou certo
que nessa angústia eterna ficarás talvez,
- porque a felicidade que passou tão perto
da tua mão, só passa uma vez!

(J. G. de Araújo Jorge)

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