quarta-feira, 23 de abril de 2008

CASO ISABELA: A DOR DA FALTA DE SENTIDO


Por Arnaldo Jabor
"Amigos ouvintes, eu tentei não ler sobre a morte da menina Isabela. Também evitei na época os detalhes do assassinato daquele menino arrastado, João Hélio, porque na minha profissão, eu tenho que selecionar os horrores, senão eu fico maluco. Mas eu não consegui! Eu vi o desfecho do caso da menina morta.
Essa tragédia não é só das vítimas: nós também sofremos para entender esse mal incompreensível. Cresce em nós uma pele de rinoceronte na alma, com o coração mais duro ficamos mais cínicos, mais passivos diante da crueldade.
Um filósofo chamado Oswaldo Giacoia Junior escreveu, uma vez, o seguinte: 'O insuportável não é só a dor mas a falta de sentido da dor. Mais ainda, a dor da falta de sentido'.
Como entender que um pai e uma madrasta possam ter ferido, estrangulado e atirado uma menininha de cinco anos pela janela? Como entender a cara sólida e cínica que eles ostentam para fingir inocência? Como não demonstram sentimentos de culpa algum? Ninguém berra, ninguém chora! Como podem querer viver depois disso? Como essa família toda, pais, mães, irmãos se unem na ocultação de um crime? Como o avô pode dizer com cara de pau que 'se meu filho fosse culpado eu o denúnciaria'? Que quer essa gente? Preservar o bom nome da família? Mas são parentes ou são cumplices?
A polícia deu um show de bola pericial no caso Isabela. Mas dá para sentir que a nossa estrutura penal tá muito defasada com este espantoso crescimento da barbárie. Como se pode tolerar que um sujeito que foi condenado outro dia, na semana passada, somente à treze anos por ter esquartejado a namorada, alegando legítima defesa, possa ficar em liberdade até esgotar os recursos que a lei prevê como diz o Supremo Tribunal de Justiça? Como entender que aquele jornalista, o Pimenta das Neves, que premeditou o assassinato da namorada com dois tiros pelas costas e na cabeça, condenado já à seis anos esteja ainda em liberdade, na boa?
As leis de execução penal tem de ser aceleradas, as punições têm de ser mais terríveis, mais violentas, mais rápidas, mais temíveis. Há um crescimento da crueldade acima de qualquer codificação jurídica. Essa lentidão, esse arcaismo da justiça, é visível não só nos chamados crimes de classe média não, como também na barbárie que galopa nas periferias. O Elias Maluco, lembram, aquele que matou o Tim Lopes com golpes de espada, ele tava em liberdade condicional, sabiam? Não se trata mais de uma perversão do humano, mas de uma perversão do animal em nós. Os pensadores da justiça continuam a tratar os crimes como desvios da norma, praticados por cidadãos iguais. Tem de acabar o tempo dos casuismos, das leniências, das chicanas.
E esse casal de pedra, esses monstros? Será que vão se defender em liberdade esgotando os recursos da lei? Como o esquartejador com justa causa? Serão condenados a dez aninhos com atenuantes? Que acontecerá com eles?
A lei tem de ser mais temida mais rápida e mais cruel. Esses vacilos da justiça explicam sucessos em filmes como Tropa de Elite, e até explicam fantasias de linchamento em nossas cabeças, que Deus me perdoe."

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