segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

SENTIMENTOS

Fátima Irene Pinto

Sei que andamos no tempo do "faz falta". Faz falta a amizade, a boa leitura, faz falta um sorriso de criança (prenhe de esperança); faz falta até um sorriso senil quando brota gentil, num tempo em que, pela lógica da vida, já não temos tanto a esperar.

Sentimentos fazem falta. Sentimentos para dividir, multiplicar, compartilhar. Somos tão acostumados às mesmas velhas trilhas, que sabotamos sentimentos de forma quase imperceptível, sem nos darmos conta de que poderemos não ter uma segunda chance para os demonstrar.

Faz falta (e como) uma reflexão! Faz falta a queda de duas lágrimas teimosas, destas que enroscam e rolam por dentro, principalmente quando são de saudade.

Faz falta uma chama acesa em algum lugar inesperado, quando nos achamos percorrendo algum labirinto sombrio da própria alma.

Faz falta aquela boa energia que nos aviva, aquela energia ímpar e calorosa que costumamos sentir na presença de nossos afins, aquelas pessoas que nosso coração costuma eleger espontaneamente.

Vez em quando até a fé faz falta, e mesmo sabendo que é um processo absolutamente humano e passageiro, faz falta ouvir alguém dizer que em breve a recuperaremos.

Faz muita falta quando não conseguimos "acessar" nossos entes queridos, seja pela distância geográfica, seja pela distância de "gerações".... e então baixamos os braços quentes de uma ternura doce, que esmaece por inobservância do destinatário.

Faz extrema falta a presença de nossos anscestrais, aqueles que nos precederam na grande travessia e levaram consigo uma parte viva de nós mesmos e da nossa história.

Sim, estamos no tempo do "faz falta". O tempo, indiferente, escapa célere pelos vãos dos dedos, e ao mesmo tempo parece se arrastar demasiado lento, dando-nos tempo de constatar o quanto necessitamos resgatar sentimentos.

Sentimentos que fazem falta ... que fazem toda a diferença ... sentimentos que se multiplicam num tempo em que todas as circunstâncias parecem não colaborar.

Mas os sentimentos, quando articulados, são prêmios de Deus pelos quais sempre vale a pena viver e lutar.

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