Agora acredito no que os teus olhos queriam me dizer. É toda a verdade. A verdade pestanejava neles enquanto eu me recusava a encará-la. Havia ainda um modo diferente de enxergar o mundo além do que eu estava acostumado a me apoiar. Como se teus olhos estivessem tentando me guiar para o cume de um penhasco no qual eu seguia vendado, opcionalmente cego, por medo de cair dele ― ou dentro deles. E olha, eu nunca tive medo de altura. Talvez porque não fazia parte dos meus planos me desprender de tudo para me perder em alguém como você. Embora agora não seja mais da minha parte escolher algo que me possa (re)partir. Às vezes a gente se descobre em outra pessoa. Então, por favor, não me olhe assim, eu jamais trocaria você por alguém como você.
Antes de tudo, eu poderia começar abrindo meus olhos. É deles que enxergo a épica história do quase. Mas as coisas melhoraram desde que eu soube enxergar o lado bom das coisas. Ainda que exista uma ótica completamente exótica a ser descoberta, meu foco melhorou muito desde que você se tornou meu ponto de foco. E não há ponto de fuga para me levar para outras paisagens, ou melodia para me tirar da lembrança a tua voz. No momento, enquanto não ponho os olhos em ti novamente, tuas lembranças são o que tenho à me prender. Porque eu não gosto daquela sensação de queda livre. Eu gosto de ter no que me segurar, ou melhor, em quem.
Veja que eu não quero ter razão, porque antes eu podia dizer que eu te entendia, mas algo mudou, agora eu te sinto. Eu suportaria viver sem ter razão sobre coisa alguma, mas eu morreria se eu não pudesse amar. Sendo a vida tão fácil em se mostrar difícil; nunca duvidei de nada ou de tudo. E desde que cravei meus olhos nos teus, estou paralisado em teu olhar, e mesmo quando você não está a minha frente, eu me foco nas lembranças. Me deixo ao que me foi deixado. E não me sinto só. Porque agora eu sei, agora eu vejo, e a verdade: agora eu sinto.
"Uma coisa eu sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo."
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