Moleca
Ser moleca é caminhar sem se prevenir. Olhar sem se preocupar. Correr sem olhar para trás. Ser moleca é usar decote em dia frio, andar descalça na areia molhada, é rir tanto, mas tanto, que dói a boca e dá falta de ar. É jogar bola com os amigos, chegar suada em casa e com cabelo na boca. É pular muro para ver o vizinho. É cantar bem alto no sábado de manhã. Ser moleca é gritar no travesseiro, comer sorvete tão rápido que chega a dar dor de cabeça. É ir sozinha no cinema, ficar boba com o neném no carrinho. É desenhar corações no caderno de matemática. Ser moleca é olhar para os homens com ar de ingenuidade, ser carinhosa e bruta ao mesmo tempo. É correr de salto alto, borrar a maquiagem, fugir do inspetor do colégio. Ser moleca é lamber os dedos depois de comer pipoca doce, escrever bilhetinhos de amor, chorar calada no quarto. É viajar sem falar com a mãe, rasgar fotos de ex-namorados, tirar fotos com namorados novos. Ser moleca é dançar sem música, colar na prova de português, abrir o olho enquanto está beijando. É vestir-se de homem em festa junina, abraçar com vontade, sentir saudade quando menos se espera. Ser moleca é roubar doce na padaria, bater a porta quando está zangada, falar de sexo com as amigas. É deitar na grama, pegar chuva despreocupada, sorrir com bala presa no dente. Ser moleca é subir em árvore, tentar tocar violão, ficar apaixonada pelo galã da novela, ficar apaixonada pelo galã da sala ao lado, ficar apaixonada pelo não tão galã irmão da sua amiga. É pular para entrar na calça jeans, arranhar o joelho, quebrar a unha. Ser moleca é sonhar em passar no vestibular. É ficar bêbada e não se lembrar no dia seguinte, trabalhar em loja de roupas, transar no elevador. E na escada. E na praia. E mais onde der. Ser moleca é falar de filosofia no bar, indignar-se ao ver um mendigo, construir um mundo melhor. É estar feliz e triste na festa de formatura, procurar emprego, querer morar sozinha. Ser moleca é falar com um cara no elevador, trocar telefone, usar véu e grinalda. É reclamar do salário, perder a conta de luz, jantar a luz de velas. É andar de mãos dadas no parque. Ser moleca é sentir vontade de comer morango às quatro da manhã, escolher um nome, comprar fralda. É chorar sem ter porquê, dizer eu te amo, dormir abraçados. É viajar para a serra, bater queixo de frio, tomar chocolate quente. Ser moleca é levar no colégio, olhar dever de casa, reclamar com a professora. É botar band-aid, dar dinheiro pro lanche, comprar camisola transparente. Ser moleca é esperar acordada no meio da noite, ganhar flores, ser simpática com a futura nora. É ficar na fila do banco, fazer palavra cruzada, ver novela das oito. É entrar pela porta da frente do ônibus, jogar baralho com as amigas, é rir tanto, mas tanto, que dói a boca e dá falta de ar. Ser moleca é viver tão intensamente que o tempo se transforma em um mero detalhe
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