Texto de Adriano Silva, 31 anos, diretor de redação da Rev.Superinteressante
Tome a mesma mulher aos 20 e aos 40 anos.
No segundo momento ela será umas sete ou oito vezes mais interessante, sedutora e irresistível do que no primeiro.
Ela perde o frescor juvenil, é verdade.
Mas também o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, de si mesma, de um homem.
Não sustenta mais aquele ar ingênuo, uma característica sexy da mulher de 20.
Só que é compensado por outros atributos encantadores de que se reveste a mulher de 40.
Como se conhece melhor, ela é muito mais autêntica, centrada, certeira no trato consigo mesma e com seu homem.
Aos 40, a mulher tem uma relação mais saudável com o próprio corpo e com seu cheiro cíclico.
Não briga mais com nada disso.
Na verdade, ela quer brigar o menos possível.
Está interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorando o que for feio e baixo-astral.
Quer é ser feliz.
Se o seu homem não gostar do jeito que ela é, que vá procurar outra.
Ela só quer quem a mereça.
Aos 40 anos, a mulher sabe se vestir.
Domina a arte de valorizar os pontos fortes e disfarçar oque não interessa mostrar.
Sabe escolher sapatos,tecidos e decotes, maquiagem e corte de cabelo.
Gasta mais porque tem mais dinheiro.
Mas, sobretudo, gasta melhor.
E tem gestos mais delicados e elegantes.
Aos 40, ela carrega um olhar muito mais matador quando interessa matar.
E finge indiferença com mais competência quando interessa repelir.
Ela não é mais bobinha.
Não que fique menos inconstante.
Mulher que é mulher, se pudesse, não vestiria duas vezes a mesma roupa nem acordaria dois dias seguidos com o mesmo humor.
Mas, aos 40, ela já sabe lidar melhor comeste aspecto peculiar da condição feminina.
E poupa (exceto quando não quer) o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a atingiam - e quem mais estiver por perto - irremediavelmente.
Aos 20, a mulher tem espinhas.
Aos 40, tem pintas, encantadoras trilhas de pintas.
Que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos.
Sim, aos 20 a mulher é escolhida.
Aos 40, é ela quem escolhe.
E não veste mais calcinhas que não lhe favorecem.
Só usa lingeries com altíssimo poder de fogo.
Também aprende a se perfumar na dose certa, com a fragrância exata.
A mulher aos 40, mais do que aos 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome.
Aos 40, ela é mais natural, sábia e serena.
Menos ansiosa, menos estabanada.
Até seus dentes parecem mais claros. Seus lábios, mais reluzentes. Sua saliva, mais potável.
E o brilho da pele não é o da oleosidade dos 20 anos, mas pura luminosidade.
Aos 20, ela rói unhas.
Aos 40, constrói para si mãos plásticas e perfeitas.
Ainda desenvolve um toque ao mesmo tempo firme e suave.
Ocorre algo parecido com os pés, que atingem uma exatidão estética insuperável.
Acontece também alguma coisa com os cílios, o desenho das sobrancelhas.
O jeito de olhar fica mais glamuroso, mais sexualmente arguto.
Aos 40, quando ousa no que quer que seja, a mulher costuma acertar em cheio.
No jogo com os homens, já aprendeu a atuar no contra-ataque.
Quando dá o bote, é para liquidar a fatura.
Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado.
Mostra sua força na hora certa e de modo sutil.
Não para exibir poder, mas para resolver tudo a seu favor antes de chegar o ponto de precisar exibí-lo.
Consegue o que pretende sem confrontos inúteis.
Sabiamente, goza das prerrogativas da condição feminina sem engolir sapos supostamente decorrentes do fato de ser mulher.
Se você, leitora, anda preocupada porque não tem mais 20 anos - ou porque ainda tem mas percebeu que eles não vão durar para sempre - fique tranqüila.
É precisamente aos 40 que o jogo começa a ficar bom.
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